Bastaria a leitura das suas cartas, nomeadamente a escrita da Índia, para nos apercebermos do sentido de humor e ironia de Luís de Camões. Mas o nosso Poeta maior tem, ainda, alguns pequenos poemas em que se reflecte um tom divertido e bem humorado. É o caso de uma quintilha endereçada ao Duque de Aveiro que lhe tinha prometido uma galinha cozinhada, mas que, afinal, lhe enviou apenas uma peça de vaca. E Camões repontou da seguinte forma:
"Já eu vi a taberneiro
Vender vaca por carneiro,
Mas não vi, por vida minha,
Vender vaca por galinha
Senão ao Duque de Aveiro."
De outra vez, D. António, senhor de Cascais, prometera a Luís de Camões enviar-lhe seis galinhas recheadas, mas só lhe remeteu meia galinha. E o Poeta não se conteve, e endereçou-lhe uma quadra:
"Cinco galinhas e meia
Deve o senhor de Cascais;
E a meia vinha cheia
De apetite para as mais."
Pouca coisa será, hoje, uma galinha mas, no séc. XVI, deveria ser uma iguaria fina e apreciada, fazendo jus ao ditado popular que chegou aos nossos dias: "Quando o pobre come galinha, um dos dois está doente". Por isso, Luís de Camões terá reagido, embora com ironia e bom humor, ao incumprimento das promessas destes dois fidalgos ilustres.
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