Em pequenos aglomerados populacionais, eles são notórios, apontados e, por vezes, ridicularizados, sem piedade. No seio de famílias com algumas posses, são escondidos em casas sombrias ou quintas afastadas - ou eram... Os últimos que vi, quase quotidianamente, foi numa vila dos subúrbios de Lisboa, acompanhados, na rua e de mão dada, pelas mães já velhas. Uma delas vestia o deficiente mental, sempre, como se ele fosse um eterno adolescente, embora ele já tivesse quase 40 anos. E trouxesse na mão, invariavelmente, um pequeno alguidar de plástico ou uma panela de alumínio onde chocalhava botões, moedas em desuso, pedrinhas ou outros pequenos objectos estridentes. Há, habitualmente, uma vergonha genética ou familiar que os esconde mas, há também, às vezes, uma cegueira maternal que, a nós, quase nos parece um exibicionismo despudorado e gritante. Mas não é, com certeza.
Lembrei-me dos pobres tolos quando postei, por amável envio de ms, no Arpose, o final do excelente filme "Sib (A Maçã)" de Samira Makhmalbaf. A belíssima e límpida fotografia clássica do vídeo, porém, não consegue afastar o lado pesado, sem saída aparente, de um fatídico destino desta família paupérrima persa. São realmente outros mundos que não conseguimos imaginar, encerrados num cemitério ainda sem cruzes de uma Natureza madrasta (para não falar em deuses), condenados a um labirinto de pesadelo. Sempre achei também curioso que, ao tema de "O Pobre Tolo", Teixeira de Pascoaes (1877-1952) tivesse dedicado dois livros. Não satisfeito com o volume em prosa (de 1924), veio a refundí-lo em poesia (1930), ou elegia satírica, mais tarde. Não tenho a menor dúvida que havia deficientes mentais, em Amarante. E, Pascoaes, deve tê-los visto, muitas vezes...
"Na tua velha ponte, São Gonçalo,
Contempla um pobre tolo, as duas margens
Do Tâmega. ..."
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