Eu sei que nem toda a gente, para além dos abstémios, gosta de aguardentes velhas, em Portugal. Mas até finais dos anos 60, enquanto as senhoras se ficavam pelo vinho do Porto, pelo licor de Alcobaça, Beirão ou de Singeverga e, em Junho, sobretudo em Lisboa, se permitiam uma ginginha popular, os cavalheiros, esses, depois do almoço ou do jantar e do café, deliciavam-se com brandy (Constantino, L34, Croft...) ou aguardente (branca ou envelhecida). As posses limitadas e a periferia salazarista raramente permitiam conhaques ou whiskies. Mas acabaram por vir, nos anos 70, por melhoria económica (que foi breve) e por ostentação de neo-riquismo de sucesso. Pela minha parte, à excepção do "L'Aiglon", nunca apreciei conhaque. Foi pelos anos 80 que descobri a "Adega Velha", da Aveleda, com a sua garrafa esguia e tortuosa que, ainda hoje, considero o Rolls-Royce das aguardentes velhas portuguesas. Ainda lhe mantenho fidelidade mas, como é cara, as mais das vezes fico-me pela "Fim de Século" cuja relação preço-qualidade é boa, ainda para mais, porque é envelhecida em cascos de carvalho, por onde passou vinho do Porto. Que se sente no aroma e no sabor.
Ora, há cerca de duas semanas, uma rede de lojas de média superfície teve a boa ideia de lançar no mercado uma nova (?) aguardente velha que dá pelo tauromáquico nome de "Estoqueador", da Companhia das Quintas, ao imbatível preço de 9,99 euros. É de boa qualidade e muito agradável. Tem uma linda cor no cálice, 38º bem comedidos para aguardente velha, bom aroma e sabor. Equiparo-a à "Fim de Século", um pouco menos seca, e fica mais barata, cumprindo bem a sua função acalentadora. Por isso a recomendo.
E, além do mais, é um produto nacional de muito boa qualidade.
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