segunda-feira, 23 de maio de 2011

Correspondência, intimidade e ética


"Meu querido mais querido,
Acabei de tomar o pequeno almoço - um grande copo de leite quente e uma bem pequena e medíocre laranja - mas ainda não me vesti ou lavei como uma menina bem comportada, e quero escrever-te..."
Este é o início de uma carta de 19 de Março de 1915, endereçada de Paris, por Katherine Mansfield (1888-1923), para o marido, John Middleton Murray (1889-1957). Esta e muitas outras cartas foram publicadas pelo escritor, num grosso volume de cerca de 700 páginas, em 1951 (London, Constable & Co LTD). Embora eu goste, normalmente, de ler correspondência de artistas, políticos e escritores, importa-me sobretudo que tenham relação directa com a actividade ou arte que praticaram. Porque o resto é, um pouco, a tal "coscuvilhice nobre" de que falei, há dias, neste blogue.
Por outro lado, não posso ignorar que, a publicação de 3 cartas de Rodrigues Lobo (1580-1622), a rondar o fescenino, dirigidas a damas de vida livre (editadas em meados do século passado), mostram uma outra faceta do escritor português. Que estavamos habituados a encarar como pastor "bem comportado" do mavioso lirismo português... Assim, encararmos a publicação destas cartas íntimas da escritora neo-zelandeza, como mero acto mercantil do marido, para ganhar dinheiro e destaque, talvez seja exagerado e injusto. Há que ver, com atenção e cuidado, caso a caso. E, depois, avaliar.

2 comentários:

  1. Li as Cartas em tempos, mas já não me lembro. Talvez eseja na altura de as folhear.
    Gosto de correspondência, desde que não seja (demasiado) íntima.

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  2. Eu também, muito embora algumas tenham pouco interesse. Até porque os artistas também têm o seu lado banal.

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