O
Suplemento 2 do Público trouxe-nos,
no Domingo passado, um trabalho jornalístico que, pelo apelo à reflexão, se
torna cada vez mais raro. Numa entrevista de Teresa de Sousa a Rob Riemen, do
Nexus Institut, falava-se da essência – da herança cultural clássica, da
Filosofia, da Literatura – como imperativo para recuperar os valores
espirituais da verdade, da beleza e da justiça, expressão de uma verdadeira
democracia, em detrimento de uma democracia de massas, baseada numa cultura
“kitsch” que impede o pensamento crítico.
Da
análise crítica e desassombrada do rumo político e social da Europa, prevalece
o apelo ao humanismo europeu como “ideal a que devemos aspirar”. No entanto, o
entrevistado identifica bem os responsáveis por essa “democracia de massas”,
i.e., uma classe dirigente “absolutamente focada nos seus próprios interesses,
que têm a ver com o dinheiro e o poder, que fez emergir aquilo a que chamo
cultura kitsch”. Por conseguinte, “a
nossa classe política nunca conseguirá resolver os nossos problemas porque ela
é o principal problema”. A estreiteza de espírito dos nossos dirigentes não
lhes permite, em vez de “salvar os bancos”, preocupar-se com as pessoas,
“facultar-lhes o acesso à arte, à cultura, aos livros … para que possam tornar-se seres humanos críticos”. Enfim, diríamos com tudo
o que tem sido alvo de cortes, em nome de numa ideologia, o capitalismo, que o
entrevistado refere, juntamente com outros fundamentalismos, como o religioso
ou outra qualquer forma de fascismo ou nacionalismo.
As
palavras dedicadas ao sistema de educação não podiam ser mais eloquentes,
resumindo, na essência, o que já abordámos noutro post. “Só interessa um
sistema de ensino que seja bom para a economia [Belmiro/Sonae, etc agradecem] e
para o Estado, ou seja, para uma classe de privilegiados, avessa a seres
humanos capazes de pensar autonomamente. Num alerta relativamente aos jovens, as primeiras
vítimas e mais vulneráveis desta sociedade, o entrevistado também é claro sobre a tendência de
voto na extrema-direita. A sociedade kitsch
fez com que acreditassem que cada um vale pelo que tem, o tipo de roupa, o
relógio, os sapatos e se não “encaixares, não és nada. Querem apenas estar no
Facebook e poder dizer: este sou eu”.
Sobre
a miséria cultural da nossa classe dirigente, sublinhada por Rob Riemen, não
resisto a acrescentar uma imagem esclarecedora:
com
o ar embevecido perante um futebolista, a quem, segundo o jornal DIE ZEIT, até
mandou “cartas de amor”.
Por
fim, não resisto a denunciar, neste 1º de Maio, o capitalista selvagem que,
despudoradamente, se aproveitou do feriado para lançar uma campanha abjecta de
descontos, usando a “crise” e a “democracia de massas” em proveito próprio e,
tal como o Wilders, da Holanda, país onde colocou o seu dinheiro, não é um
democrata.
Vou tentar ler esta entrevista.
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