terça-feira, 1 de maio de 2012

Recuperar a cultura humanista da Europa



O Suplemento 2 do Público trouxe-nos, no Domingo passado, um trabalho jornalístico que, pelo apelo à reflexão, se torna cada vez mais raro. Numa entrevista de Teresa de Sousa a Rob Riemen, do Nexus Institut, falava-se da essência – da herança cultural clássica, da Filosofia, da Literatura – como imperativo para recuperar os valores espirituais da verdade, da beleza e da justiça, expressão de uma verdadeira democracia, em detrimento de uma democracia de massas, baseada numa cultura “kitsch” que impede o pensamento crítico.
Da análise crítica e desassombrada do rumo político e social da Europa, prevalece o apelo ao humanismo europeu como “ideal a que devemos aspirar”. No entanto, o entrevistado identifica bem os responsáveis por essa “democracia de massas”, i.e., uma classe dirigente “absolutamente focada nos seus próprios interesses, que têm a ver com o dinheiro e o poder, que fez emergir aquilo a que chamo cultura kitsch”. Por conseguinte, “a nossa classe política nunca conseguirá resolver os nossos problemas porque ela é o principal problema”. A estreiteza de espírito dos nossos dirigentes não lhes permite, em vez de “salvar os bancos”, preocupar-se com as pessoas, “facultar-lhes o acesso à arte, à cultura, aos livros … para que possam tornar-se seres humanos críticos”. Enfim, diríamos com tudo o que tem sido alvo de cortes, em nome de numa ideologia, o capitalismo, que o entrevistado refere, juntamente com outros fundamentalismos, como o religioso ou outra qualquer forma de fascismo ou nacionalismo.
As palavras dedicadas ao sistema de educação não podiam ser mais eloquentes, resumindo, na essência, o que já abordámos noutro post. “Só interessa um sistema de ensino que seja bom para a economia [Belmiro/Sonae, etc agradecem] e para o Estado, ou seja, para uma classe de privilegiados, avessa a seres humanos capazes de pensar autonomamente. Num alerta relativamente aos jovens, as primeiras vítimas e mais vulneráveis desta sociedade, o entrevistado também é claro sobre a tendência de voto na extrema-direita. A sociedade kitsch fez com que acreditassem que cada um vale pelo que tem, o tipo de roupa, o relógio, os sapatos e se não “encaixares, não és nada. Querem apenas estar no Facebook e poder dizer: este sou eu”.
Sobre a miséria cultural da nossa classe dirigente, sublinhada por Rob Riemen, não resisto a acrescentar uma imagem esclarecedora:


com o ar embevecido perante um futebolista, a quem, segundo o jornal DIE ZEIT, até mandou “cartas de amor”.
Por fim, não resisto a denunciar, neste 1º de Maio, o capitalista selvagem que, despudoradamente, se aproveitou do feriado para lançar uma campanha abjecta de descontos, usando a “crise” e a “democracia de massas” em proveito próprio e, tal como o Wilders, da Holanda, país onde colocou o seu dinheiro, não é um democrata.

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