sábado, 4 de junho de 2011

Thomas Mann


Já por aqui, em tempos, se entabulou um triálogo (em comentários) sobre a dificuldade de encontrar as palavras exactas para descrever uma situação ou um sentimento, a propósito de um texto de Vergílio Ferreira (1916-1996). Eu tenho de confessar que nunca tive grandes dificuldades em me expressar. Mas uma coisa é o comum vivente falar e escrever, e outra coisa é um escritor - um grande escritor - a escrever. Comprei, há dias, dois voluminhos muito simpáticos e da mesma colecção, num alfarrabista, com novelas da autoria de Thomas Mann (1875-1955). O escritor alemão é, para mim, um dos 10 grandes autores do séc. XX. Concretamente: "A Montanha Mágica". Logo, e pelas primeiras páginas de uma das novelas, se vê o virtuosismo notável de Mann, na escrita de "O Cão e o Dono" que foi traduzido, para português, por Gaspar Simões. E, eu, nem gosto muito de cães. A não ser dos dálmatas, esteticamente: é que fui muito mordido, por cães, na infância e adolescência - já conto, no currículo, com 3 vacinas anti-tetânicas... e eles ainda hoje rosnam, quase todos, quando eu passo próximo.
O pequeno excerto, desta novela ("Herr und Hund", 1919), descreve a alegria animal do cão Bashan, um perdigueiro alemão, à chegada do seu dono, numa espécie de boas vindas afectuosas. Segue:
"...põe-se a pirotear em volta de mim, à guisa de cumprimento, com imoderados mergulhos e oscilações, que se não limitam ao apêndice com que a natureza o dotou para esse fim, mas lhe põem em acção os quartos traseiros e até as próprias costelas. Contrai todo o corpo num arco de circo, move-se no ar no meio de um salto, dá voltas e voltas sobre si próprio e, coisa assaz curiosa, para qualquer lado que eu me vire, continua a realizar estas manobras, inclusivamente nas minhas costas. Contudo, assim que eu paro e levanto a mão, salta para o meu lado e queda-se imóvel como uma estátua, o focinho junto à minha canela, numa postura de esguelha, as possantes patas arranhando o chão, o focinho voltado para cima, de tal modo que fica a olhar para mim às avessas. E a completa imobilidade em que cai, enquanto eu lhe afago o lombo e murmuro palavras de encorajamento, é tão concentrada e apaixonada como antes o seu frenesim. ..."(pg. 9).

2 comentários:

  1. Não li este conto do Thomas Mann, mas aguço-me o apetite. E acho que não conheço esta colecção «Antologia dos Amigos do Livro».

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  2. Os livrinhos, MR, são muito atraentes, graficamente. E esta tradução de J.G. Simões parece-me muito boa.

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