O livrinho ("Introdução à pintura", 1963) de Mário Dionísio (1916-1993), que H. N. teve a gentileza de me oferecer, é muito estimulante e agradável de se ler. No capítulo "Da árvore à estátua", Mário Dionísio aborda, com particular acuidade, a criação de uma obra. É um pequeno excerto, o que passo a transcrever:
"...a zona do caos criador, onde as ideias arrumadas são estranhas, onde não há mais que sugestões de um mundo prestes a formar-se, onde ainda não há frases, mas só termos ou sílabas, sons, insinuações de palavras, onde ainda não há planos de cores, volumes, mas uma luz que se entremostra, cores e linhas que se procuram e se evitam, onde a mínima intromissão do raciocínio orientador, por inoportuno, desfaz toda a realidade nascitura. Zona fecunda em que a inteligência selectiva intervirá a seu tempo, quando as mãos, em plena liberdade, tiverem destruído e reinventado, tacteado, quase como sonâmbulas, o suficiente para que a madeira da árvore comece a transformar-se na madeira da estátua. ..."
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