segunda-feira, 13 de junho de 2011

Uma história de sucesso : o arrumador da minha rua


Ainda me lembro dele, aqui há uns 7 ou 8 anos, esgrouviado e despenteado, com a sua garrafa de água de litro e meio, e um ar esgazeado e sujo. Depois, fez uma parceria familiar com uma jovem de "paupérrimas feições" que praguejava mais alto e mais fundo do que um estivador empedernido. Pegavam às 7,30 da manhã e largavam às 11; voltavam a meio da tarde e por ali ficavam, aos gritos, impropérios e gesticulações até os lugares de estacionamento ficarem todos preenchidos com os carros dos noctívagos para o Bairro Alto. Por volta da meia-noite, costumavam introduzir, nos dois parquímetros da rua, cápsulas de latas de coca-cola, para os inutilizar, e assim exercer o seu mester, impunemente. O casal, entretanto, ia bebendo cerveja, em vez de água, por garrafas de litro. Um dia a rapariga desbocada desapareceu, para sempre (overdose?, mudança de ramo?). Entretanto, o arrumador fez-se amigo de algumas "Tias" que trabalham na zona e que até lhe facultavam a chave do carro, para ele lhes arrumar o veículo, nos melhores espaços. E há 4 anos, pouco mais ao menos, começou a vir para o trabalho num carro velho, um pouco desconjuntado, que conduzia com habilidade surpreendente. Já tratava as "Tias" pelo nome próprio e cumprimentava, de igual para igual, os engenheiros e doutores da zona. Entretanto, mudou de carro, um Opel, em segunda mão, mas em bom estado. Já vestia roupa de marca e rapou a cabeça, modelarmente. O negócio ia de vento em popa, e tinha já muitas "Tias" e clientes fidelizados. E arranjou um empregado, esgrouviado como ele era a princípio, que arrasta os pés, praguejando continuamente. Para minha surpresa, este seu colaborador, há dois meses ou três, começou a vir de bicicleta, para o seu posto de trabalho. Qualquer dia, se calhar, também compra um carro em 2ª mão. Entretanto, o patrão, ou arrumador primitivo, já aparece menos: poupa-se e trabalha mais como supervisor. Deve andar a pensar em arranjar uns "franchisados" e mudar de carro, outra vez... São as novas oportunidades! 

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