O campo, numa iniciativa engenhosa patrocinada por uma empresa de grandes superfícies e de catedrais de consumo urbanas, veio encher a cidade, recentemente. Ou a Avenida da Liberdade. Aliás, na sequência do que tem acontecido, nos últimos 100 anos: os campos vão ficando despovoados de pessoas que vão superlotando os subúrbios das grandes cidades. É sintomático que o novel primeiro-ministro, pela 1ª vez, nestes últimos anos de Democracia, que eu saiba, habite um subúrbio ou freguesia artificial e dormitório (Massamá).
Eça, o citadino, Camilo, campestre e rural. Polémica, a afirmação, define de algum modo os cenários literários. Mas talvez explique um gosto mais acentuado, dos portugueses, pelos romances de Eça de Queiroz. Em Camilo há tempo, paciência, espera; em Eça, há pressa (rima, e parece-me verdade). O tempo nos campos, o stress (incipiente, ainda) nas cidades.
Quem, cordialmente, me acompanha já se deve ter apercebido que ando a ler (ou reler? - confesso que não sei, ao certo) "Levantado do Chão", de Saramago. É um livro "guloso", na acepção semelhante de dizermos que "um pão é guloso" ou "um vinho é guloso"- apetece mais. O livro está bem construído mas, sobretudo, o cenário (Alentejo interior) já nos diz muito pouco. As realidades são outras. Aquilino, porventura, já foi sepultado pelo Tempo (oxalá me engane!); quem se lembra ou lê, hoje, com menos de 40 anos, Araújo Correia, Loureiro Botas, Namora, Torga, Redol ou Régio? Dentro de 50 anos, creio, serão relíquias estudadas por Académicos curiosos, estudiosos sérios do neo-realismo, ou hiper-renascentistas das antigas realidades...
A cidade secou os campos, como o eucalipto vai secando tudo em volta. Ironia das ironias: talvez os subúrbios venham a secar as cidades.
«quem se lembra ou lê, hoje, com menos de 40 anos, Araújo Correia, Loureiro Botas, Namora, Torga, Redol ou Régio?» Eu perguntaria, quem conhece? E tiraria da lista Torga, dado que Os bichos era (é?) lido nas escolas.
ResponderEliminarNão me lembro de ter lido Loureiro Botas.
Mais concreto, realmente, o "conhecer", MR. O Loureiro Botas contava coisas dos pescadores. Talvez à maneira, neo-realista, de Leão Penedo - este, não o li eu. E poderia juntar Marmelo e Silva (do "Adolescente Agrilhoado")que foi pai do poeta José Emílio Nelson (que não aprecio particularmente). E tantos outros: Faure da Rosa, Ferro Rodrigues, Domingos Monteiro... Completamente esquecidos.
ResponderEliminarNão aprecio particularmente que escrevam sem hífen José Emílio-Nelson.
ResponderEliminarTentarei, Unknown, fazer-lhe a vontade da próxima vez, mas os comentários ( e já passou mais de um ano) não se podem rasurar - apenas eliminar. Sorry!
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