sábado, 4 de junho de 2011

A sorte dos bichos, e dos livros


No céu leitoso do fim da tarde, há dois fiapos de nuvens de um azul inexistente, ou não catalogável. Outros, mais esfarelados, mas de um cinzento claro, objectivo. A restolhada dos pardais, na árvore mais frondosa, vai amortecendo numa soada morna, para noite. O "aladino" abriu os olhos eram 21,06 e, o "pirilampo", sujeito ainda a uma luz coada, só três minutos depois é que mostrou o seu olhar azul, nórdico.
Há um tinido que parece de prata (não o sei dizer melhor...), de uma ave nocturna, ao longe, enquanto eu avanço na leitura da história de Bashan (T. Mann, "O Cão e o Dono"), sentado na varanda. O relato faz-me lembrar, pela ternura do registo, o "Platero e eu" de Jimenez.
Pergunto-me, às vezes, sobre a fortuna de um livro (diz o povo: "mais vale cair em graça do que ser engraçado."), em detrimento de outro, de igual qualidade. Ou sobre a sorte de um animal doméstico, e o azar de outro. Porque será que este perdigueiro Bashan, de Mann, não conquistou a celebridade do burro Platero, de Jimenez? Insondáveis mistérios da natureza humana a que a noite, que caíu entretanto, também me não sabe responder.
Subitamente, as luzes de um avião, vindo de leste, cruzam o céu. E, pouco depois, guinam suavemente para norte. Acabaram-se-me as cogitações... O avião vai descendo para a Terra.

2 comentários:

  1. Talvez por "Platero" ter sido 'adoptado' como um livro para jovens. Não sei se Jiménez o teria escrito com tal intuito.

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  2. Tem toda a razão, MR. O registo deste livro de T. Mann é mesmo para adultos.

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