sábado, 4 de agosto de 2018

Últimas aquisições


Os barbeiros antigamente eram palreiros.
Ora, há quanto tempo eu não me deparava com esta linguagem fresca e terrunha!?...
E como eu ando farto dos nomes de lojas novas, pela Baixa lisboeta e por tanta santa terrinha portuguesa, em parolos anglicismos e francesismos, quando não em norte-americanismos, que só ilustram o provincianismo de muitos (jovens?) empreendedores lusos, que julgam que, crismando assim as suas baiucas, lhes asseguram uma linhagem mais fina e moderna...
A frase, com que iniciei o poste, fui buscá-la à página 69 de Sem Método (1938), de João de Araújo Correia (1899-1985), médico e escritor transmontano, que nasceu e morreu em Peso da Régua, e escreveu sempre em português de lei, com brio e orgulho, honra lhe seja. Com este livro, que foi o segundo publicado a expensas próprias, trouxe também, do meu alfarrabista de referência, Manta de Farrapos, editado em 1962, do mesmo autor. Dei pelos dois volumes 27 euros, que os livros ainda estavam por abrir e em muito bom estado.
Vão ser o meu antídoto e banho lustral, por uns tempos, para me imunizar e servir de contra-veneno, em relação aos neologismos palermas, que por aí vejo, com letras garrafais, em tantas lojas portuguesas grã-finas e estabelecimentos de restauração que gostam de armar ao pingarelho...


para Maria Franco que, sei, também aprecia a prosa sólida e legítima de João de Araújo Correia.

4 comentários:

  1. É verdade que a escrita de J.A.Correia me deslumbra.
    Tenho os Contos Bárbaros e transcrevo as palavras na
    contra capa:Os momentos de crueza e de lirismo que povoam
    estas páginas...., o tom de humanidade que nelas repassa e
    o casticismo de uma linguagem sóbria e incisiva fazem de J.A.C.
    um notável prosador das nossas letras.Da Arcádia tenho os Melhores
    contos, com um prefácio notável de Guedes de Amorim. Agradeço a sua
    referência, e aproveito para lhe dizer que gosto das capas dos livros
    que adquiriu e lá dentro decerto a riqueza peculiar de uma notável escrita.
    Desejo-lhe uma boa tarde, e para bem de todos nós, uma descida da temperatura.

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    1. Cheguei tarde a João de Araújo Correia, andava mais próximo de Tomás de Figueiredo, seu émulo talvez do lado de cá do Marão, e que falava, com propriedade dos ambientes minhotos, que me eram mais conhecidos.
      Os 2 livros estão agora à cabeceira de HMJ que os anda a ler, mas eu vou dando uma espreitadela, de vez em quando...
      As capas têm o gosto da época e são, pelo menos, originalíssimas.
      Grato pelos seus votos, que retribuo com estima.

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  2. Li muito jovem os livros de J.A.C. porque eles existiam em casa dos meus pais. E gostava porque o universo não me era de todo estranho. Lisboa era então composta de poucos alfacinhas, de modo que se entrecruzavam-se conersas com muitos regionalismos.
    «Palreiros» acho uma palavra apropriadíssima para um local onde os homens iam, mesmo que não cortassem o cabelo, para falar e saber novidades. E nalguns casos, ler o jornal.
    Bom dia!, de preferência com menos calor do que ontem.

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    1. Estou a tentar fazer a minha recuperação de J. A. Correia, e com prazer..:-)
      Na província, realmente, as tertúlias e cavaqueiras eram menos nos cafés, e mais nos barbeiros e cabeleireiras. E também, nas Farmácias, quanto aos homens, e nas padarias e mercearias, quanto a mulheres.
      Parece que, hoje, ainda não vamos ter sorte com as temperaturas, parece que só baixam na Terça-feira..:-(
      Retribuo, no entanto.

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