Uma das características imprescindíveis de uma obra prima ou de um clássico, para mim, é que não pode, nem deve ter unicamente uma leitura ou interpretação linear. Mesmo que, para alguns, essa seja a única visão - a da superfície das águas.
Um poema, uma pintura abstracta, um filme, uma peça musical, de qualidade, deve obrigar a uma descodificação da emoção que desperta, um travo longo - como de um vinho raro - que se prolonga. Uma reflexão posterior, em suma, que pergunta a Vida.
Exatamente o que acontece com a leitura dos três espanholitos de que eu ontem falei: Cercas, Marías e Reverte. :)
ResponderEliminarBom domingo!
Dos três que refere, creio que só li um livro de Pérez-Reverte, "O clube Dumas". Mas a malapata que foi ler uma obra de Rosa Montero ("A Louca lá de Casa"?), incensada corporativamente na imprensa, deixou-me de pé atrás com a prosa castelhana actual. Para ser franco, MR, não me lembro de nenhum romance espanhol que me tenha enchido as medidas...
EliminarHá o "Platero e eu", do Jiménez, mas é uma noveleta em prosa poética. Agora, sobre Poesia, a Espanha é riquíssima e tem do melhor: Aldana, Quevedo, Becquer, J. R. Jiménez, Lorca, Alberti, Gamoneda... Nesse particular, rendo-me por inteiro.
Bom Domingo, também.
Quem não tiver essa capacidade que diz ser necessária
ResponderEliminarpara descodificar e fazer essa reflexão a que se refere
pode amar-gostar, mesmo sem saber explicar. Isso talvez acontece , a quem tem poucas habilitações académicas.Talvez o importante seja apenas, sentir.
É a minha simples e básica opinião. Desejo-lhe uma boa semana.
Não creio que as habilitações académicas sejam muito importantes para saber apreciar, convenientemente, uma obra de arte. Podem é ajudar. Mas o essencial parece-me ser a capacidade de reflexão pessoal e o sentido crítico que cada ser humano pode, e deve, desenvolver, criando em si, através de uma multiplicidade de experiências, um sentido estético e de gosto, ainda que pessoal e subjectivo.
EliminarTive alguns professores catedráticos que não tinham sentido crítico, nem estético. Mas Óscar Lopes, por exemplo, tinha sentido crítico e estético, além de ter o maravilhoso dom da intuição para se aperceber, de imediato, da qualidade de uma obra - que é uma coisa mais rara, porque, parece-me vem do coração... (para chegar a Pascal) E, no entanto, na sua humildade de Mestre, às vezes, socorria-se da opinião experiente de Eugénio de Andrade para fundamentar a sua decisão sobre a qualidade de alguns novos poetas.
Vai longo este diálogo, encerro-o com os melhores votos de uma noite fresca, para si, Maria Franco.