quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Descartáveis


Sabe-se que o amor não é eterno, sobretudo na vida real. E os impulsos ou paixões fulgurantes, ainda menos. O que amamos na infância ou na juventude raramente nos desperta o mesmo sentimento, na idade adulta. É natural e humano, que assim seja. Mas há algumas coisas, neste capítulo, que tenho dificuldade em aceitar e, muito menos, compreender.
É sabido, embora sibilino pelo menos para o PAN que é um partido particular e ruralmente correcto, que, pelo início das férias, algumas boas almas simples, por entre lágrimas insofridas, costumam libertar para a rua um ou outro animal de estimação, para poderem usufruir, mais tranquilamente, os seus tempos livres... É assim que, aqui, na zona outrabandista, vagueiam em liberdade e matilha 4 canídeos, um dos quais ainda ostenta  uma afectiva coleira de amor passado. Quanto a gatos, esses donos caritativos já abandonaram dois às delícias da liberdade. Quando os vejo, lembro-me sempre de Nicolau Tolentino e do seu exemplar soneto Deitando um cavalo à margem

No que a livros diz respeito, nunca pensei, porém, que na sua imobilidade discreta pudesse estorvar ou incomodar o espaço dos seus proprietários. Hoje, fiquei na dúvida. Talvez estorvem o espaço de alguma gentinha pragmática com ligeiras intenções do sempre em festa - e devem incomodar. Porque encontrei, matinalmente, junto aos contentores do lixo outrabandista, uma pequena e desorganizada biblioteca juvenil. Composta por 5 ou seis livros escolares, ainda impecáveis, e cerca de uma dezena  de álbuns de BD, abandonados.
Deixo, em imagem, dois testemunhos. E devo confessar que fiquei siderado. Foi o meu momento zen, do dia, talvez da semana de início da sempre beatífica e libertadora silly season!...

6 comentários:

  1. Quando não se quer um livro, algo impensável para nós, pode-se sempre dar para uma Biblioteca, pois esse "orfão" irá certamente descobrir uma família que o irá estimar.
    Boa tarde!

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    1. Será sempre a melhor opção. No caso que referi, se calhar nem sabem que existem bibliotecas que aceitariam o seu "lixo"...
      Uma boa noite.

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  2. Confesso que também não sabia que as bibliotecas aceitam qualquer tipo de livros. Há tempos fiz uma selecção de livros escolares, pois por falta de espaço e de interesse dos próprios livros, desfiz-me deles, mas coloquei-os na reciclagem.

    Nos Estados Unidos fazem uma coisa interessante; aceitam todos os livros que dão à biblioteca e depois aqueles que não têm interesse para a biblioteca, vendem-nos baratíssimos ou dão-nos. Ouvi isto em videos do youtub, sobre trabalhos artísticos/manuais que têm, algumas vezes, por base, livros velhos. Os autores destes videos, conseguem dessa forma alguns livros para os seus trabalhos. Não tenho conhecimento que se faça isso em Portugal.

    Uma boa tarde:)

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    1. Uma boa parte, sim, aceita. Outras, maiores e mais completas, é que não. Mas, repare, a cerca de 300 metros do local em que encontrei os livros abandonados, há um centro social e de convívio, com uma pequeníssima biblioteca incipiente, onde já entreguei alguns livros que não me interessavam e que eles receberam com regozijo.
      Não sabia desse modo de proceder nos E. U. A., e parece-me uma óptima ideia.
      Que a tarde não lhe seja muito penosa (calor), por aí.

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  3. Isabel,
    Nos EUA e na Inglaterra. Já comprei vários Nureyev em alfarrabistas, vindos de bibliotecas inglesas que pretendem renovar os seus fundos e não têm espaço.
    As Juntas de Freguesia e os centros sociais, como diz APS, e que aceitam livros escolares que depois entregam a quem não os pode comprar.
    Bom dia a todos!

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    1. Bom dia, MR.
      E ande pela sombra, que o dia promete..:-)

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