No próximo dia 8 de Fevereiro passará o primeiro centenário de nascimento da escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), mais conhecida pela sua obra poética. Foi amiga próxima de Marianne Moore, e viveu no Brasil entre 1951 e 1965, tendo tido uma relação amorosa com a pintora paisagista Carlota (Lota) de Macedo Soares. Regressou aos Estados Unidos, onde veio a falecer, a 6 de Fevereiro de 1979. Dela, vamos traduzir o poema A art:
Uma arte
A arte da perda não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem ter essa intenção,
de se perderem, que a sua perda não é um desastre.
Perder alguma coisa todos os dias. Aceitar a perturbação
da perda das chaves de casa, de uma hora mal gasta.
A arte da perda não é difícil de dominar.
Depois é preciso praticar sempre, mais e mais:
lugares, e nomes, objectivos de viagem.
Nenhuma destas perdas será um desastre.
Perdi o relógio de minha mãe. E reparem! a última
ou a penúltima das mais amadas casas, eu perdi.
Mas a arte da perda não é difícil de dominar.
Perdi duas cidades bem-amadas. E, mais vastos,
territórios que foram meus, dois rios, um continente.
Perdi-os, mas não foi um desastre.
- Mesmo ao perder-te (a voz estranha, o gesto
que eu amava), não poderei mentir. Torna-se evidente
que a arte da perda não é difícil de dominar,
embora pareça (escreve-o) um desastre.
Conheço muito mal esta poetisa.
ResponderEliminarGostei deste poema.
Também gostei. Gosto do «travo» irónico.
ResponderEliminarEu, também, MR. Só de antologias, mas este poema e outro ("Waiting room"?) sobre a descoberta do eu,são muito celebrados.
ResponderEliminarEsta ironia que se mescla de realidade é uma marca de grande parte da poesia americana e inglesa e que as distingue da europeia continental. Obrigado, c.a..
ResponderEliminarEstive a ver mais poemas da Marianne Moore e também cheguei a este. Gosto muito deste poema. Tenho-o no meu blogue. Tenho um livro dela.
ResponderEliminarEngraçado, que não vi ironia neste poema, mas alguma tristeza e aceitação do inevitável. Mas talvez a tradução seja um pouco diferente e lhe dê outro tom. Não sei, já não o leio há muito tempo.
Hei-de voltar a ler este, e também os de Marianne Moore, com mais calma.
Boa noite!
Eu também gosto deste poema, Isabel. Mas o "tom" poético de Elizabeth Bishop é algo diferente do de Marianne Moore que é, quase sempre, mais provocatório e activo. Há entre as duas uma diferença de temperamento e sensibilidade que faz toda a diferença. De qualquer das formas são poetas a ter em consideração.
ResponderEliminarUma boa noite, para si!
Afinal já cá tinha estado! Até tinha uma vaga ideia, mas esqueço-me, porque vou lendo tanta coisa em tantos blogues...
ResponderEliminarAgora que pude comparar mais as duas traduções, gosto muitíssimo mais da sua. Ao ler a que coloquei no blogue, sinto que há ali qualquer coisa que não está correcta, no português...não sei...Sei que a sua tradução faz muito mais sentido. É mais bonita, lê-se e compreende-se melhor.
Obrigada:)
Bom dia:)
Muito obrigado, Isabel.
EliminarTenho de confessar que, intimente, senti algum júbilo..:-)
Bom resto de semana!
Errata:
ResponderEliminarqueria dizer - intimamente.