sábado, 5 de fevereiro de 2011

Elizabeth Bishop



No próximo dia 8 de Fevereiro passará o primeiro centenário de nascimento da escritora norte-americana Elizabeth Bishop (1911-1979), mais conhecida pela sua obra poética. Foi amiga próxima de Marianne Moore, e viveu no Brasil entre 1951 e 1965, tendo tido uma relação amorosa com a pintora paisagista Carlota (Lota) de Macedo Soares. Regressou aos Estados Unidos, onde veio a falecer, a 6 de Fevereiro de 1979. Dela, vamos traduzir o poema A art:

Uma arte

A arte da perda não é difícil de dominar;
tantas coisas parecem ter essa intenção,
de se perderem, que a sua perda não é um desastre.

Perder alguma coisa todos os dias. Aceitar a perturbação
da perda das chaves de casa, de uma hora mal gasta.
A arte da perda não é difícil de dominar.

Depois é preciso praticar sempre, mais e mais:
lugares, e nomes, objectivos de viagem.
Nenhuma destas perdas será um desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. E reparem! a última
ou a penúltima das mais amadas casas, eu perdi.
Mas a arte da perda não é difícil de dominar.

Perdi duas cidades bem-amadas. E, mais vastos,
territórios que foram meus, dois rios, um continente.
Perdi-os, mas não foi um desastre.

- Mesmo ao perder-te (a voz estranha, o gesto
que eu amava), não poderei mentir. Torna-se evidente
que a arte da perda não é difícil de dominar,
embora pareça (escreve-o) um desastre.


9 comentários:

  1. Conheço muito mal esta poetisa.
    Gostei deste poema.

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  2. Também gostei. Gosto do «travo» irónico.

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  3. Eu, também, MR. Só de antologias, mas este poema e outro ("Waiting room"?) sobre a descoberta do eu,são muito celebrados.

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  4. Esta ironia que se mescla de realidade é uma marca de grande parte da poesia americana e inglesa e que as distingue da europeia continental. Obrigado, c.a..

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  5. Estive a ver mais poemas da Marianne Moore e também cheguei a este. Gosto muito deste poema. Tenho-o no meu blogue. Tenho um livro dela.
    Engraçado, que não vi ironia neste poema, mas alguma tristeza e aceitação do inevitável. Mas talvez a tradução seja um pouco diferente e lhe dê outro tom. Não sei, já não o leio há muito tempo.
    Hei-de voltar a ler este, e também os de Marianne Moore, com mais calma.
    Boa noite!

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  6. Eu também gosto deste poema, Isabel. Mas o "tom" poético de Elizabeth Bishop é algo diferente do de Marianne Moore que é, quase sempre, mais provocatório e activo. Há entre as duas uma diferença de temperamento e sensibilidade que faz toda a diferença. De qualquer das formas são poetas a ter em consideração.
    Uma boa noite, para si!

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  7. Afinal já cá tinha estado! Até tinha uma vaga ideia, mas esqueço-me, porque vou lendo tanta coisa em tantos blogues...

    Agora que pude comparar mais as duas traduções, gosto muitíssimo mais da sua. Ao ler a que coloquei no blogue, sinto que há ali qualquer coisa que não está correcta, no português...não sei...Sei que a sua tradução faz muito mais sentido. É mais bonita, lê-se e compreende-se melhor.
    Obrigada:)

    Bom dia:)

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    1. Muito obrigado, Isabel.
      Tenho de confessar que, intimente, senti algum júbilo..:-)
      Bom resto de semana!

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  8. Errata:
    queria dizer - intimamente.

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