segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Marianne Moore


A propósito de Elizabeth Bishop, referi (5/2/11) que tinha sido amiga de Marianne Moore (1887-1972). A poesia desta escritora americana não é simples, embora pareça. Uma ironia, por vezes quase corrosiva, diluída em palavras suaves, é uma das suas marcas de água. As palavras deixam sempre algo por dizer, ou, pelo menos, sugerem-no. Há quem diga que a sua poesia tem como privilegiados destinatários, apenas, outros poetas de vocação. Não concordo, inteiramente, com esta afirmação. Alguns versos de Marianne Moore fazem-se-me eco, na memória, com o tom de alguns poemas de Fernando Assis Pacheco que não tem, de maneira nenhuma, uma poesia hermética ou ininteligível - bem pelo contrário.
Esta mulher singular que tinha uma forma de vestir muito própria e que usava, com frequência, um exótico chapéu tricórnio era, em quase tudo o mais, relativamente discreta. Gostava muito de desporto e frequentava espectáculos desportivos, com gosto. Agregou tertúlias literárias ao longo da sua vida, e era amiga de Ezra Pound. T. S. Eliot apreciava muito a poesia de Marianne Moore. Para que se faça uma ideia, vamos traduzir-lhe um poema:

Silêncio

Meu pai costumava dizer,
"As pessoas superiores nunca fazem visitas demoradas,
e devem ser vistas junto ao túmulo de Longfellow
ou nos canteiros floridos de Harvard.
Auto-confiantes como um gato -
que leva a sua presa para um lugar privado,
a cauda flácida oscilante do rato, suspensa da boca,
como um cordão de sapatos - às vezes
essas pessoas gostam da solidão,
e podem até perder a fala
diante de um discurso que lhes dê prazer.
O sentimento íntimo e profundo deve sempre manter-se
silencioso; não em silêncio, mas discreto".
Ele nem sequer era insincero quando dizia, "Faz da minha casa
a tua hospedaria". As hospedarias não são moradas.


2 comentários:

  1. Outra poetisa que conheço mal, só de um ou dois livros traduzidos em Portugal.
    Gostei do poema que escolheu e do relacionamento que fez com a poesia do FAP.
    «Ele nem sequer era insincero quando dizia, "Faz da minha casa / a tua hospedaria". As hospedarias não são moradas.» :)

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  2. Eu tinha dado mal por ela. Tenho poemas em 2 ou 3 antologias, que li decerto com pouca atenção, e por causa da Bishop, revisitei a Moore - e aí dei conta da qualidade. Há um poema "Poetry" que é uma maravilha. É, no entanto, longo e não sei se estará ao meu alcance "estragá-lo...

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