domingo, 13 de fevereiro de 2011

Variações a propósito de John Updike



Ao reler o poema de John Updike ("Requiem", inserido em Endpoint and other poems), que traduzo a seguir, vieram-me à memória, por associação, alguns casos de intelectuais portugueses. A idade cerca quase sempre de silêncio os últimos anos da vida de um homem; é de regra, normalmente. E, talvez nesse dilúvio que é a velhice ou a doença terminal, convenha mais o esquecimento e a penumbra. Perturbaram-me os últimos anos de um Eugénio de Andrade cercado de silêncio. E o longo Alzheimer de Gérard Castelo-Lopes (1925-2011). Como não me deixam indiferente quer o caso de Agustina, quer um apagamento gradual de Óscar Lopes, de que pouco ou quase nada sei.
Então, John Updike, agora:
Requiem

No outro dia ocorreu-me:
Estando para morrer, que ninguém dissesse,
"Oh, que pena! Tão jovem, tão cheio
De futuro promissor - mistérios insondáveis!"

Ou então, com uma ruga e de olhos secos
Acolherão meu passamento;
E a vaga reacção será, eu sei,
"Pensei que ele já tinha morrido."

Porque a vida é um vil subterfúgio
E a morte é real, opaca, e medonha.
O seu impacto será registado
em nenhures, mas onde acontece.

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