segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Em defesa e proveito do nome


Quem deixou família, ainda tem quem o defenda ou proteja de barbaridades póstumas e apropriações indevidas e malfeitorias mal atribuídas.
É o caso de um poema de Sophia, fracote, que corre mundo pela net, como se fosse dela, não sendo. E é o que, normalmente, acontece quando não se cruzam dados e, à falta de biblioteca, se recorre a empresas de cultura barata e pindérica da net, como "O Pensador", "O Citador" e quejandos, para referir textos consagrados de autores célebres. Não se julgue porém que figuras prestigiadas, por preguiça académica, não copiam também de outros, às vezes, incorrendo assim no erro e pecado original. António José Saraiva, por exemplo, num trabalho, para a Clássicos Sá da Costa, atribuiu a Correia Garção alguns sonetos que são, realmente, de Cruz e Silva. E Jacinto do Prado Coelho, copiando de Júlio de Castilho, produziu algumas incorrecções num pequeno ensaio sobre o Abade de Jazente (Paulino António Cabral). No melhor pano cai a nódoa...
Dizia eu, no início, que sorte tem quem deixou família. Porque uma das filhas de Sophia tem procurado limpar o nome da Mãe, de excrecências menores que, falsamente, lhe são atribuídas por esses amadores rasteiros de poesia, que pululam neste mundo ignaro. Eugénio de Andrade não teve essa sorte, mas por outros motivos. Bem mesquinhos - diga-se.
Leio, no TLS (nº 6043), que Jane Austen conta, presentemente, com 330 descendentes. Sorte dela! E deles, ao mesmo tempo. Que lhe vão aproveitando a marca e o nome, para ir ganhando fama e para ir produzindo publicações menores e até produtos comerciais, que têm tido grande sucesso à custa da célebre romancista, cujo bicentenário da morte se comemorou, recentemente.
Isto, para o comércio, não há ninguém como os ingleses!... 

8 comentários:

  1. Quando li hoje o Público fiquei arrepiado !
    Quem terá sido ?

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    1. A razão é a leviandade e ligeireza humanas.
      Grande parte desta gente que cita, pela net fora, cita de cópias e muito raramente vai aos textos originais. Ou porque não têm livros ou porque nem sequer têm a honestidade de ir a uma biblioteca consultá-los, pois não querem ter esse trabalho...
      Luís Miguel Queiroz, no texto do "Público" dá vários exemplos, alguns quase surrealizantes desta ignorância que vai grassando impunemente.
      Uma boa noite.

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  2. Também li a notícia e fiquei estupefacta, pois já vi o poema publicado em diferentes locais e sempre com a indicação de ser da autoria de Sophia de Mello Breyner; mas realmente nunca o vi num livro da própria Sophia...
    Uma vergonha!!
    Ainda bem que a verdade é revelada!

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    1. A net está cheia de charlatanismo. De pretensa cultura, também. Mas os grandes autores sempre foram objecto de acrescentos espúrios: Camões foi uma das vítimas exemplares. Há quem lhe atribua 5 cartas (Hernâni Cidade) e quem garanta apenas 2 (Costa Pimpão)...
      Com Sophia, tão recente, é que só por crassa ignorância e despudor!

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  3. Depois de ler este excelente post fui ler o artigo do "Público". O mais grave é que no século XXII a História irá ser baseada no que está publicado na net, tudo o resto será esquecido, porque investigar longe de um simples click irá dar muito trabalho.
    Boa noite!

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    1. Tem toda a razão na sua previsão do futuro, infelizmente...
      Cada vez será de menos seres humanos a Verdade.
      Agradeço as suas palavras amigas.
      Uma boa noite.

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  4. Para casos como este é que o Instituto Português do Livro, ou algo no género, devia servir: para defender a obra dos autores mortos. Para os defender, não para fazer dinheiro à custa deles.
    Bom dia!

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    1. Bem como a SPA, no caso de terem sido associados, ainda que já falecidos.
      O mal disto é que a mentira, muitas vezes, floresce melhor que a verdade.
      E a ignorância crassa, na net, é maioritária...

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