domingo, 17 de fevereiro de 2019

Apontamento 122: Civismo


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Na esteira do manifesto anterior, aplicando-se o jargão economicista de sobrefacturação ao tratamento e “sofrimento” duplicados a que fui sujeita, não posso calar a minha indignação perante a falta de civismo dos utentes do SNS. Sejamos francos, há muito boa gente a abusar dos recursos, marimbando-se nas consequências económicas, financeiras e até humanas, do SNS, recorrendo aos Hospitais quando não é necessário.

Aliás, já há muitos anos que me dizia uma médica amiga o seguinte: “Quando precisares da urgência, a melhor hora é a das telenovelas. Ficamos às moscas. [sic]” Não me espanta, por isso, que, mesmo passados vários anos, ainda haja uma percentagem elevadíssima – de 40% - de emergências médicas não urgentes, i.e., de recurso a uma Urgência Hospitalar.

Confesso que não compreendo este gosto, para mim algo perturbador, de pensar, logo ao primeiro sinal, de se deslocar a um Hospital, já que é ambiente que não me é confortável e evito ao máximo. No entanto, já aconteceu ter tido a necessidade de utilizar este último recurso. Liguei para a Saúde 24, quando a minha ciência a capacidade de sofrimento ultrapassou o limite. Mesmo estando fora da residência habitual, encaminharam-me para o Hospital mais próximo, o Garcia de Orta de Almada. A chegada ao Hospital foi tranquilíssima. Na Recepção da Urgência já tinham todos os meus dados recolhidos no telefonema anterior e aguardei, conforme o parecer médico, pela ordem amarela atribuída, já que não vinha trucidada de nenhum membro. Posto isto, não partilho de nenhuma opinião catastrofistas quanto a este ou outro Hospital, a saber, o S. José em Lisboa.

O caso de haver, ainda, 40 % de casos – NÃO URGENTES – nos Hospitais portugueses, relaciona-se, quanto a mim, com uma enorme condescendência relativamente à falta de civismo com que muita gentinha utiliza os recursos.

Para elucidar como se processa lá fora, na Grande Alemanha, como cá por casa se conhece, conta-se, em poucas palavras, como se processa.

NÃO SE PODE IR PELO PRÓPRIO PÉ PARA UMA URGÊNCIA ! É mesmo assim, tal e qual. Ou vai, como se diz, de charola, ou pelo Serviço Saúde 24, i.e., um médico a dizer que tem de ser assistido em ambiente hospitalar.

Ora, um dia, há muitos anos, a minha mãe sofria de degenerescência de um fémur, provocando, por vezes, dores insuportáveis. Sucedeu que, ao circular numa estrada secundária, bati num buraco e o balanço do carro lhe devia ter provocado um movimento pouco saudável. Chegado ao destino, a casa. ela não conseguiu, com tantas dores, sair do carro, mesmo com a minha ajuda. Que fazer ? Fui com ela ao Hospital mais próximo. Estacionei no parque e, na Recepção, relatei o caso. Resposta: NADA. Não contactou o seu médico ? Não ligou para o 112 ? Assim não pode ser ! Só com muita insistência, lá foi um enfermeiro falar com a minha mãe, deram-lhe uma injecção contra as dores para, pouco depois, sob o efeito da mesma, poder ajudá-la a sair do carro e contactar o seu médico assistente para mais apoio.

Com efeito, o abuso por parte de prestadores e utilizadores apenas conhece, quanto a mim, uma regra clara de não complacência, quando a falta de civismo não ajuda.

Post de HMJ

2 comentários:

  1. Concordo com o que diz, mas acho que algumas deslocações às urgências se devem ao facto de haver muita gente sem médico de família atribuído. E ao horário dos centros de saúde, que deveria ser mais alargado (horário que alguns parece terem passado a praticar desde há um ou dois meses) e com um médico disponível para urgências. Não sei se alguns centros de saúde (em áreas muito populosas) não deveriam ter meios de diagnóstico mínimos para 'desentupirem' os hospitais.
    Bom dia!

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    1. Para MR:
      Pois os meios de diagnóstico, nos Centros de Saúde, seriam úteis.

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