Soneto LXXV (da Tuba de Calíope)
São dadas nove. A luz e o sofrimento
me deixam só nesta varanda muda,
quando a Domingos, que dormindo estuda,
por um nome que errou, lhe chamo eu cento.
Mortos da mesma morte o dia e o vento,
a noite estava para estar sesuda,
que desta negra gente, em festa ruda,
endoudece o lascivo movimento.
Mas eu que digo? Solto o tão sublime
discurso ao ar, e vou pegar da pena
para escrever tão simples catorzada?
Vêdes? Não faltará pois quem m'a estime,
que a palha para o asno ave é de pena,
falando com perdão da gente honrada.
Francisco Manuel de Melo (1608-1666), in As segundas três Musas.
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