terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Relógios biológicos?


Sabermos, exacta e previamente, a data da nossa morte seria decerto uma tragédia prática, embora talvez pudesse ser útil para arrumarmos a nossa vida de forma conveniente. E para nos despedirmos e acertarmos contas definitivas com todos aqueles que merecessem a nossa estima e afecto. Por outro lado, essa previsão do fim iria perturbar, profundamente, a nossa forma natural de viver esses últimos dias. E introduzir um desespero e ansiedade acrescida na nossa rotina de vida.
Surpreendo-me, muitas vezes, extraordinariamente por ver a enorme herança que alguns artistas deixaram apesar da sua curta vida. Mozart, Schubert, Rimbaud, Van Gogh, são bons exemplos dessa afirmação. Portugueses, Nobre e Cesário, Soares dos Reis e Henrique Pousão, certificam de qualidade maior esse exercício notável de viver.
Como se todos eles possuíssem, íntimo, interior, um relógio biológico inconsciente que os obrigasse e apressasse a dizer ou fazer, nesses exíguos anos de vida, tudo aquilo que, de melhor, tinham para escrever, fazer ou pintar se, porventura, viessem a ter uma longa vida ou, pelo menos, de duração média e normal.

5 comentários:

  1. É verdade - mas penso muitas vezes como evoluiria a obra deles se tivessem mais tempo. Será que se acomodavam ou continuariam sempre em crescendo (como Picasso)? Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É essa, realmente, a grande questão, Margarida. O que seria, depois? E a que não saberemos nunca responder.
      Bom dia.

      Eliminar
  2. Estive à ppuco tempo no Museu Soares dos Reis fiquei impressionada com a sala dedicada ao Henrique Pousão, custa acreditar que mmorreu com 26 anos. Como seria se chegasse a velho?
    Eu acrecentaria o Amadeo de Souza Cardoso a esta lista.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este 'Ismael' do Auguto Santo que está no Porto, impressionou-me muito pela expressão do rosto. A angústia era presente.

      Eliminar
    2. Augusto Santo e Souza-Cardoso, bem como o seu amigo Modigliani, caberiam, naturalmente, nessa lista de vidas curtas que deixaram obra imensa e de qualidade.
      E que dizer de Pousão, um dos meus pintores portugueses preferidos!?...
      O MNAC tem algumas coisas lindas dele. E umas tabuínhas pintadas, que são uma maravilha.
      Um bom resto de semana.

      Eliminar