sábado, 14 de abril de 2012

Jacques Lèbre (1953)


De Le coeur, cette pompe, o soneto IV

Cada voz é a vaga de um oceano maior,
o poema devia fazer ricochete, até à vertigem,
até ao enjoo que se assemelhasse a este mundo
para que seja sua imagem, reflexo sobre a página.

Mas nenhum poema terá jamais o odor dos matadouros,
nem sequer poderá  receber uma bala no ventre,
e é nisto que é invencível o seu poder
de coisa verbal saída do sopro quente de um corpo

que, em si, como corpo não é invencível,
ameaçado que está por bacilos e priões.
Que o poema não espirre se o poeta tem gripe.

Porque ele não sabe donde vêm estes sonetos,
ele pergunta-se se a poesia não será uma incubação
e se a página não é branca como um leito de hospital.

Jacques Lèbre (2001?).

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