terça-feira, 17 de setembro de 2019

Idiotismos 46


Em finais dos anos 80 do século passado, tive ocasião de visitar no Gürzenich, em Colónia, uma magnífica exposição-venda de Livros Antigos, com inúmeras bancas de conhecidos alfarrabistas europeus e norte-americanos, principalmente. Do catálogo luxuoso, que pude consultar, constava apenas um livro português: Arte da Cavallaria de gineta, e estardiota, bom primor de ferrar & alveitaria... (1678), obra de António Galvão de Andrade (1613?-1689). O volume, obra-prima da impressão portuguesa, e em muito bom estado, estava precificado a 1.100 marcos alemães. Ainda hoje sai muito caro em Portugal, quer em leilões de livros, quer nos alfarrabistas.


Do longo título do volume, sobressai o termo estardiota (ou estradiota) que eu já conhecia e sempre achei exótico. Palavra que traduz uma forma própria e clássica de montar das senhoras, de lado. Hoje, creio que raramente se usa e as modernas amazonas cavalgam exactamente como os homens, com cada perna para o seu lado.
Alguns dicionários registam o termo como sendo: "arte de montar firmando-se o cavaleiro nos estribos e estendendo as pernas." Há quem anote o significado de soldado mercenário albanês, e quem dê a palavra como proveniente do italiano stradiotto (soldado).


Creio, no entanto, que cavalgar à estardiota era apanágio e privilégio de damas nobres e rainhas, que assim se faziam representar, mais femininas, compostas, e dignamente. Como a rainha Victória, em Balmoral, neste quadro de Charles Burton Barber, de 1876.

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