sábado, 21 de setembro de 2019

Filatelia CXXXIII


Qualquer acervo temático, quer ele seja bibliográfico, numismático, medalhístico ou outro, acaba por integrar, necessariamente, outros conjuntos ou colecções anteriores que, muitas vezes por acaso ou vontade alheia, lá foram parar. E que, de forma inesperada, muitas vezes, vieram ter connosco, ora de forma arrumada, ora desorganizada.
Há, no mínimo, na minha colecção de selos, quatro fundos mais antigos que, por morte dos anteriores proprietários, acabaram por se reunirem, unitariamente, ao meu inicial conjunto pessoal filatélico.
A parte mais significativa, na minha colecção de selos, dos Antigos Estados Alemães e do Deutsches Reich pertencia a um jovem (F. S.), que morreu na Guiné colonial, em tempos difíceis de guerra dos anos 60. A colecção foi-me doada pelo irmão, C. S., meu grande amigo.
De Moçambique, me ficou um acervo significativo de selos que T. P. juntara. Jovem ainda, no regresso nocturno da Póvoa de Varzim, adormecera ao volante e embatera num poste, que lhe caiu sobre o tejadilho do carro, atingindo-o fragorosa e fatalmente. Não tinha chegado aos 30 anos... Mais uma vez, o irmão mais velho pensou em mim, como digno e respeitador herdeiro dessa colecção.
Em anos mais recentes de final do século passado, e por morte natural, em provecta idade, do dono de uma boa colecção de selos novos (apenas da República), recebi cerca de metade desse acervo interessante e muito bem cuidado, que veio enriquecer o meu conjunto filatélico.


Se hoje são já muito poucas as lojas filatélicas com alguma importância (Molder, Domingos Sacramento e Filatelia do Chiado, com dimensão e fundos significativos) em Lisboa, nos anos 60/70 elas prosperavam e seriam talvez quase um dezena distribuídas pela cidade (na rua do Arsenal, na avenida da Liberdade, na rua do Crucifixo, a Eládio dos Santos, Adelino Cardoso, a Afinsa...). Além disso, havia as actividades marginais de agentes sem banca própria e intermediários que facilitavam contactos, davam notícias (filatélicas) e favoreciam transacções de colecções importantes, ajustando ainda pormenores dos acordos de negócios.
No capítulo dos profissionais secundários, havia a especialidade dos "pacoteiros" que arrebanhavam toda a especialidade de selos, os tratavam e, depois, os agrupavam em montinhos de 100 unidades iguais, vendendo-os depois às casas filatélicas, para estas fazerem envelopes de 50, 100, 150, 200 diferentes... por países que, por sua vez, eram adquiridos por filatelistas em início de carreira.
Pois, foi um acervo desta natureza que veio a integrar a minha colecção, recentemente, por oferta amiga. Se não há raridades, em princípio, no conjunto, os inúmeros pacotes dar-me-ão imenso entretém procurando variedades (cores ou tonalidades e pequenos erros), carimbos pouco frequentes (Escalhão, por exemplo, localidade no concelho de Pinhel, como já encontrei dois) e outras particularidades filatélicas.


Vou a meio desse trabalho lúdico...

Obrigado, A. de A. M.!

8 comentários:

  1. O senhor tem tido sorte a ampliar a colecção. Por isto e aquilo, já herdou uma parte substancial e de valor tanto afectivo como monetário. Oiço falar de selos caríssimos. Aos quinze anos comecei uma colecção de postais escritos e enviados. Que, também devido a ofertas, cresceu de imediato e parou passado um ano ou dois. Mas o que gostava e ainda me atrai neles era o que e como diziam.

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    1. A persistência na actividade tem virtualidades e dá garantia a quem não sabe o que fazer do que tem ou lhe ficou. Mas estudar ou investigar o que se tem é aquilo que dá mais prazer.

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  2. Tenho uma ou duas caixinhas de cartões de visita «da mais alta distinção» que eram do meu pai. Mas a cartolina destes cartões é muito agradável ao toque. :)
    Nos meus tempos de ajuntadora e arrumadora de selos frequentava a loja da Rua do Crucifixo e comprava o catálogo de Eládio dos Santos.
    Bom sábado!

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    1. Estas caixinhas são sempre um encanto..:-)
      Comecei com o catálogo do Mercado Filatélico (Porto) e na loja homónima, na rua de Sto. António ou 31 de Janeiro. Adelino Cardoso, já falecido, é, para mim, ainda uma referência de sério comerciante, e sabedor. Tinha escritório num 1º andar da R. do Crucifixo.
      Bom resto de fim-de-semana.

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    2. A loja onde eu ia na Rua do Crucifixo era mesmo uma loja. Acho que ainda está aberta.
      Bom domingo!

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    3. Ainda funciona, sim senhor.
      Boa noite.

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  3. Comecei uma modesta colecção de selos de primavera passada, principalmente para salvar selos em alguma correspondência que tinha recebido nos últimos anos e pelo entretém. Depois disso também recebi partes significativas de duas colecções, com selos muito mais interessantes, e em muito maior número, do que os que recebi na minha correspondência. Daí que tenha vindo a pensar que coleccionadores de selos são pessoas muito generosas.
    Bem-haja!

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    1. Comecei aos 9 anos, e com ofertas amigas de outros filatelistas.
      Fiz mais tarde o mesmo, fornecendo alguns jovens conhecidos em início de colecção. Para quem goste de selos, propagar é um prazer.
      Bom fim-de-semana.

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