terça-feira, 26 de setembro de 2017

Infância


Para o bem e para o mal, a infância é um território contido. A que emprestamos, quase sempre, no presente, uma idealização passada de liberdade feliz. Esquecemos os interditos, as limitações impostas de cima (adultos), os afagos incómodos suportados com desagrado esquivo, os desejos insatisfeitos, os horários bem marcados do sono e do comer, dos trabalhos de casa e do brincar, e um tédio fininho, sem esse nome definido ainda...
Pelos meus anos mais tenros há, desde sempre, um oásis de histórias que, primeiro me leram, e depois eu li. Um soldadinho de chumbo, uma princesa de sapatos de ferro que não podia deixar de dançar até cair exausta, as aflições de um par de crianças perdidas na floresta. Nem sempre as histórias eram edificantes ou felizes, mas exercitavam a imaginação no sentido da superação das adversidades e na esperança de que tudo se viesse a resolver a bem.
Não sei por quanto tempo a literatura infantil continuará a ser para as editoras uma actividade temática rentável, ou a leitura um aspecto importante de formação humana. Talvez outras formas vão ocupando o espaço que os livros ocuparam, com outro movimento, outra acção, menos tédio trabalhoso, junto das crianças.
Uma amiga, que tinha ido com os netos ao Oceanário, em Lisboa, contou-nos que viu um jovenzinho, de 4 a 5 anos, especado junto do vidro dum dos grandes aquários, passar o dedo, como se fosse sobre um tablet, sobre a montra-visor, para que o peixe, na sua frente, passasse e outros viessem animar o ambiente...

8 comentários:

  1. Verdadeiro e lindo !
    Gostei muito. Foi como sentir o perfume da infância sem tablets.
    Continuação de um bom dia.

    ResponderEliminar
  2. Livros, os meus grandes companheiros na infância, com a Anita, a colecção Manecas, mas ainda melhor quando se abria o baú de tesouros que era a barraca do meu pai no quintal e podia pegar nos Cavaleiros Andantes, sempre com todo o cuidado. Mais tarde, mais livros se seguiram, até os que descobria na Biblioteca de Algés. Ainda hoje olho para os que tenho com todo o carinho, porque com eles cresci. Que belas memórias me despertou. Até fiquei com uma lagrimita no canto do olho!
    Bom dia

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois nem a tanto eu quereria chegar, embora me congratule com as memórias que o poste lhe despertou, Paula.
      Para quem gosta de ler, há sempre uma arca antiga de tesouros, de grata memória, felizmente. A infância nunca morre, em definitivo.
      Uma boa tarde, para si, também.

      Eliminar
  3. Este belo texto fez-me viajar no tempo e conduziu-me a essa época em que entrava na Bertrand ou na Livraria do Diário de Notícias no Camões, levado pela minha avó e depois de entrar maravilhado no mundo dos livros ela me dizia: anda Rui vai escolher um livro...
    A minha bola de futebol, chamava-se livros!
    Muito boa tarde!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois também eu, pelos 12 anos, deixei de ser sócio do Vitória (de Guimarães) e passei a receber os 11$00 da quota mensal, que trocava, quase invariavelmente, por livros..:-)
      Um boa tarde, também!

      Eliminar
  4. Contaram-me uma história semelhante e já não me lembro se era sobre um livro que uma criança ainda mais pequena do que a que refere passava o dedo como se fosse sobre um tablet. Sim, é horrível, mas é outra cultura... Se lerem e compreenderem o que lerem não me interessa o suporte em que o façam, embora me faça confusão.
    Bom dia!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Outros tempos, realmente, a que teremos de nos habituar...
      Retribuo, cordialmente!

      Eliminar