Vi, há dias, o filme The Best Offer (2013), de Giuseppe Tornatore (1956), que conta com um notável desempenho de Geoffrey Rush (1951), como actor principal. Por entre leilões, enganos e amores, se processa o destino de um homem. Às vezes, até por ruas mais estreitas e passos confusos, contraditórios. Camaleónico e grande profissional, nas várias personagens que assume, a Rush mal se dá por ele, inteiramente... O que talvez seja o melhor elogio que eu posso fazer a um actor, naquela perspectiva de suspension of desbelief de que falava Coleridge.
Mas também nós nem sempre nos reconhecemos. Passado o tempo adolescente em que pensávamos ser únicos. Nos espelhos, na voz repercutida em gravação, numa ou noutra fotografia, em algumas das decisões que tomámos, quando revisitadas mais tarde. Há sempre qualquer coisa de incoerente em cada ser humano. Inventariadas, ao longo de uma vida, as nossas acções, nem todas colhem o assentimento da concordância ou de uma ética, ainda que consideradas, com isenção, as circunstâncias que as motivaram. Ou, então, a memória não reteve integralmente a emoção da altura, o capricho momentâneo que a ditou, a ira de que fomos possuídos.
Mas também nós nem sempre nos reconhecemos. Passado o tempo adolescente em que pensávamos ser únicos. Nos espelhos, na voz repercutida em gravação, numa ou noutra fotografia, em algumas das decisões que tomámos, quando revisitadas mais tarde. Há sempre qualquer coisa de incoerente em cada ser humano. Inventariadas, ao longo de uma vida, as nossas acções, nem todas colhem o assentimento da concordância ou de uma ética, ainda que consideradas, com isenção, as circunstâncias que as motivaram. Ou, então, a memória não reteve integralmente a emoção da altura, o capricho momentâneo que a ditou, a ira de que fomos possuídos.
Porque também a ingenuidade nos atinge, mais cedo ou mais tarde, apesar da experiência, da astúcia que julgamos possuir, da benevolente memória que retém, com caridade, apenas tudo aquilo que não nos envergonha, obliterando, quase sempre, o que foi negativo no percurso. Para limpar, salutarmente, o cadastro e continuarmos a viver com esse mínimo de dignidade humana que se reforça, de forma natural, ao vermos esse rosto, embora envelhecido, logo pela manhã, no espelho interior da nossa casa. Até um dia, de que talvez nem sequer nos dêmos conta.
A memória tem essa capacidade de nos fazer viajar através da vida que escolhemos ou que fomos obrigados a escolher e por vezes sem o famoso espelho a marcar-nos no corpo/rosto a passagem do tempo, regressamos aos anos em que fomos mais felizes e pensávamos ter o mundo na palma da mão.
ResponderEliminarNão conhecia o filme do Tornatore com o Geoffrey Rush e estive a ver o trailer e já descobri que ele está disponível no Youtube, é certo que vê-lo no cinema ou no pequeno écran é sempre melhor :)
Muito obrigado pela sugestão.
Desejo-lhe um excelente domingo!
Gostei imenso, para lá, até, do desempenho de Geoffrey Rush. Tornatore é sempre um realizador a ter em conta.
EliminarHá, por vezes, situações que nos provocam um "balancete" ao passado, que é sempre bom fazer e actualizar.
Um bom Domingo, também!
Não vi o filme, mas pelo trailer parece-me ser um filme
ResponderEliminarinteressante. Mas gostei muito, das suas considerações.
Desejo-lhe uma boa noite.
Muito obrigado, Maria Franco.
EliminarO filme é muito curioso, bem interpretado e dirigido.
Uma boa próxima semana!
Estive com a Paula a ver este extraordinário filme de Tornatore com um Geoffrey Rush inesquecível, muito obrigado pela sugestão.
ResponderEliminarDesejo-lhe um resto de bom domingo!
Um filme que nos surpreendeu e agradou! As voltas e reviravoltas de uma vida, a girar quais as rodas do autómato! (só não podia ir ao "Night and Day em Praga - aqueles relógios todos iam-m pôr tão nervosa!)
ResponderEliminarBom resto de domingo!
Paula e Rui:
Eliminarapraz-me registar que lhes agradou este filme, que me deixou uma magnífica impressão quer quanto ao desempenho de Rush, quer em relação à realização de Tornatore.
Isso me recompensa amplamente da sugestão que fiz.
Cordialmente,
Alberto Soares