No seu Diário, a 13 de Janeiro de 1948, André Gide (1869-1951), após ter acabado a leitura de um romance de Georges Simenon (1903-1989), escreve as seguintes notas pessoais:
Acabado de ler Touriste de Bananas, um dos menos conseguidos de Simenon. É uma pena, porque ele desperdiça um tema surpreendente; por precipitação, e, poder-se-ia dizer: por impaciência. As personagens de Simenon têm muitas vezes um interesse psicológico e ético profundo; mas insuficientemente expresso, como se ele não se desse conta da sua importância; ou como se ele esperasse ser compreendido apenas por meias palavras. Mas também é por isso que ele me atrai e retém. Ele escreve para «o grande público», sabemos. Mas até os sofisticados e mais exigentes podem encontrar-lhe interesse desde que o tomem a sério. Porque ele faz reflectir e por pouco não atinge o melhor da arte; quão superior ele é em relação a esses romancistas maçudos que não nos provocam a graça de um pequeno comentário. Simenon expõe um facto particular, de interesse geral talvez. Mas defende-se de o generalizar: isso é um problema do leitor.
André Gide, in Journal 1939-1949 ( Bibliothèque de la Pléiade, 1955).
Ele escrevia e tentava editar sem parar, segundo li na sua biografia (de Pierre Assouline). Se calhar o "Touriste..." sofreu com esse aspecto. Os romances não conheço, só os "Maigret" e até nesses se percebe às vezes alguma pressa.
ResponderEliminarBom fim de semana
Os chamados "romans durs" demoravam mais tempo a escrever e alguns, na minha modesta opinião, ombreiam com a melhor literatura francesa do séc. XX. Este, que Gide refere, não me deixou recordação. Mas também com poetas, se forem bons, basta que nos deixem 2 ou 3 poemas memoráveis...
EliminarObrigado, Paula. Igualmente!