Menos equilibrado e coerente do que Danúbio, este Alfabetos (Quetzal, 2013), de Claudio Magris (1939), é de boa e agradável leitura, ajudado por uma tradução de Antonio Sabler, que me parece bem feita, no seu português corredio, limpo e claro. O livro é constituido por crónicas escritas para o Corriere della Sera, prefácios para livros de conhecidos e amigos, e intervenções públicas. Os últimos capítulos são uma espécie de exéquias saudosas e evocativas a alguns confrades, falecidos, do escritor triestino.
Se Danúbio é o itinerário físico e fluvial de memórias associadas ao rio, Alfabetos é mais um percurso espiritual sobre escritores da Mitteleuropa, em que se destacam Kafka, Canetti, Svevo, entre muitos outros. Onde também sobrenadam filamentos autobiográficos de convívios fraternos acontecidos, nesse caminhar que é a vida. A Itália não está excluída e, muito menos, Trieste, território matricial de Magris. E gostaria de chamar a atenção para o capítulo As mãos de Paulo VI, em que, com grande subtileza, se evocam dois olhares: o do Papa e o de Alberto Cavallari, seu interlocutor.
Eu creio que é necessário ser um grande escritor, para falar de vários assuntos e pessoas que mal conhecemos, e nos manter interessados e atentos, a nós leitores, da primeira à última página de um livro. É o menos que eu posso dizer desta obra de Claudio Magris.
Comprei-o há tempos, mas foi mais um para o monte, à espera da minha reforma...
ResponderEliminarDeve ser bem interessante, tal como me pareceu.
Desejo-lhe uma boa noite:)
O "Danúbio" é melhor, mas este também se lê com muito agrado.
EliminarUma boa noite, também.
E uma próxima semana que corra pelo melhor!