Não sei, francamente, se nos anos 60/70 portugueses chegou a haver uma acentuada divisão entre quem adorava Londres e quem idolatrava Paris. Naquela acentuada ferocidade entre sportinguistas e benfiquistas, que hoje existe. Como, hoje, a juventude se divide entre Berlim e Nova-Iorque, porque se esquece ou se envergonha do que é terrunho e nacional.
Embora haja uma devoção portuguesa, inquebrantável, pela cultura francesa, (muito superior à que existe em relação à inglesa) que já vem, pelo menos, desde o séc. XVIII aristocrático, de quando estive em Paris, não guardei grandes recordações dos franceses. Gostei, sim, do Louvre e das baguettes.
Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), PR da I República e homem político que tinha mundo e gosto, parece também ter preferido a capital inglesa, em detrimento de Paris. É o que se depreende destes 2 pequenos fragmentos, do seu Londres Maravilhosa:
Emquanto a «enfeitada» Paris - modelo de todas as mais marafonas modernas - só cuida de nos chegar aos lábios os bicos, ungidos de capitoso mel, das suas tetas sovadas, mas engrinaldadas, ...
Nos seus arrebiques, como nas suas arguciosas pesquisas, «Paris» tudo tende a espiritualizar e tudo por lá resulta matéria; em «Londres» a imensidão da matéria só pode ser sentida por espiritualizações delicadas. Toda a gente gosta de discretear a respeito de «Paris»; eu prefiro lembrar-me de «Londres». ...
Embora haja uma devoção portuguesa, inquebrantável, pela cultura francesa, (muito superior à que existe em relação à inglesa) que já vem, pelo menos, desde o séc. XVIII aristocrático, de quando estive em Paris, não guardei grandes recordações dos franceses. Gostei, sim, do Louvre e das baguettes.
Manuel Teixeira Gomes (1860-1941), PR da I República e homem político que tinha mundo e gosto, parece também ter preferido a capital inglesa, em detrimento de Paris. É o que se depreende destes 2 pequenos fragmentos, do seu Londres Maravilhosa:
Emquanto a «enfeitada» Paris - modelo de todas as mais marafonas modernas - só cuida de nos chegar aos lábios os bicos, ungidos de capitoso mel, das suas tetas sovadas, mas engrinaldadas, ...
Nos seus arrebiques, como nas suas arguciosas pesquisas, «Paris» tudo tende a espiritualizar e tudo por lá resulta matéria; em «Londres» a imensidão da matéria só pode ser sentida por espiritualizações delicadas. Toda a gente gosta de discretear a respeito de «Paris»; eu prefiro lembrar-me de «Londres». ...
Peço licença, mas do que li, não duvido. No Bilhete de Identidade de M. Filomena Mónica os pró-ingleses eram os mais chiques; e a autora foi apodada de comunista quando se soube que lia os franceses. Há um paralelo entre algumas preferências desta socióloga com as anteriores de um Ruben A. (ténis, oxford, D. Pedro V...), uma pessoa que não suportava a França e era tido como snob. Um sporting-benfica intra-muros. Foi o que me pareceu.
ResponderEliminarTambém já tive o meu devaneio por Londres..:-)
EliminarQue desapareceu em 1985: Thatcher tinha estragado o espírito inglês, quando lá voltei. Mas ainda hoje prefiro o humor britânico ao francês.
E nunca me esqueço de Verlaine, Matisse, Valéry, Char... Que fazem o melhor da grande cultura francesa.
Saudações cordiais!
Gosto de ambas as cidades. Boa tarde!
ResponderEliminarE faz bem..:-)
EliminarBom resto de tarde!
Pois eu não gosto de Londres, mas gosto de todo o resto que conheço do Reino Unido (e conheço alguma coisa). E gosto dos britânicos.
ResponderEliminarThatcher destruiu a sociedade britânica, que tinha uma classe trabalhadora culta e educada. Basta ver os filmes de Mike Leigh para ver a modificação que houve.
Gosto de Paris e do pouco (pouquíssimo) que conheço da França. Os parisienses eram muito arrogantes, mas hoje são cordiais e prestáveis. Se calhar a maioria dos habitantes de Paris hoje são a segunda ou terceira geração da imigração.
Gosto muito de Teixeira Gomes, mas nisto discordo dele. :)
Bom dia!
Talvez alguma coisa se tenha passado em Paris, de desagradável, com Teixeira Gomes, para justificar a acrimónia.
EliminarQuanto a Londres, como embaixador, a situação era muitíssimo adversa: a família real portuguesa lá exilada, Soveral quase íntimo de Jorge V.
E, no entanto, Teixeira Gomes fez por lá um notável trabalho, em prol da jovem República Portuguesa. Talvez, daí, a gratidão e preferência.
Boa tarde!
Nem todos têm de gostar do mesmo. Como se costuma dizer: se todos gostassem do mesmo, o que seria do amarelo? Ou de Van Gogh que tanto gostava de amarelo? Pelo sol. E eu gosto de flores amarelas. :)
EliminarBom dia!
É verdade.
EliminarE se eu um dia tivesse que me exilar, não trocaria, decerto, Guimarães ou Évora, nem por Paris, nem por Londres..:-)
Bom fim de tarde!
A senhora aqui de casa deu-me a conhecer as duas cidades. Gostei imenso de Londres, mas apaixonei-me por Paris, porque por lá encontro os meus livros, discos, filmes, exposições. já Londres foi uma decepção.
ResponderEliminarApesar de um dia os franceses me terem oferecido uma intoxicação alimentar que quase me matou, para além das "deliciosas" greves nos transportes, com que somos regularmente presenteados, continuo a preferir Paris.
(Um dos meus escritores de cabeceira Lawrence Durrell, que escolheu a zona da Provence para viver, odiava Paris e um dia descobri a razão: foi roubado na cidade das luzes.)
Muito boa tarde!
Saudações cordiais!
Eu creio que uma cidade, onde não vivemos, nos deixa na memória, são necessariamente fragmentos. E uma opinião vaga e geral: positiva ou negativa. Há quem diga que o aspecto amoroso ou sexual também pode deixar marcas, no gosto.
EliminarNão gostei muito dos poucos parisienses que conheci, "in loco". O oportunismo mercantilista, algumas aldrabices, limpeza ("baguettes" embrulhadas em jornais, hotéis e cafés pouco asseados, cantinas universitárias muito degradadas...) deixando muito a desejar.
Há muito que não vou a Paris. Mas os 3 últimos representantes máximos da França não parecem deixar margem a grandes ilusões: o Bling-Bling do Sarkosy, o homem normal (Hollande) e aquele que chamam o idiota útil (Macron). Claro que nós também tivemos o Cavaco... Felizmente, hoje, o nosso PR é de qualidade.
Cordialmente, caro Rui, lhe desejo uma boa noite!
Não conheço nenhuma das cidades, mas se pudesse visitava primeiro Paris.
ResponderEliminarBoa tarde:)
Tudo poderá ter o seu encanto, Isabel.
EliminarE tudo depende da expectativa com que podemos ir, a qualquer lugar.
Uma boa noite!