sábado, 30 de setembro de 2017

Adivinhas e folhetos de J. D. R. da Costa


Soube viver, ao que parece, este Josino Leiriense, poeta arcádico, de seu nome completo: José Daniel Rodrigues da Costa (1757-1832). Sobretudo por se ter acolhido a altos patrocínios, como o do Intendente Pina Manique. Mas escrevia e publicava muito, coisas menores é certo, mas divertidas. Que se vendiam bem pelo Rossio e pelas Portas de Sto. Antão, em forma de folhetos de cordel. Além disso, teve acesas polémicas com Bocage, que talvez não lhe perdoasse a índole conservadora.
Bem gostaria eu de saber quem lhe compraria as publicações: talvez escriturários e comerciantes, alguns poetas menores, mestre-escolas, média burguesia letrada, provavelmente, a pequena fidalguia ociosa...



Deste Barco da Carreira dos Tolos, em 12 fascículos mensais, adquiri 9, ficando a faltar-me o I, VI e VII (respectivamente, dos meses de Janeiro, Junho e Julho), que não os havia no alfarrabista. São da segunda (?) edição, de 1820, pois a original foi publicada em 1803. O magano do José Daniel usava de alguns pequenos truques para manter acesa a curiosidade e fidelidade dos leitores. No final de cada folheto, por exemplo, punha uma adivinha, cuja solução só era fornecida no folheto do mês seguinte...


Em relação a esta última adivinha, posso informar que a resposta era: Sepultura.
Também fiquei a saber, pelos folhetos, que machacaz era, na altura, um indivíduo corpulento, mas desajeitado; por vezes, finório, espertalhão. Quanto à expressão andar à donata, não lhe consegui descobrir o significado. Estes idiotismos, populares decerto, nem sempre tiveram seguimento de vida, no tempo.


6 comentários:

  1. Tão interessante este poste. Gostei muito.
    Bom fim de semana.

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    1. Obrigado, Maria Franco.
      Retribuo, cordialmente, os votos.

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  2. Não me lembro de algum dia ter visto a face de JDRC. E não o imaginava assim. :)
    Mas tenho lido muitas das suas publicações porque muito da Lisboa do seu tempo encontra-se nesses escritos menores.
    Bom fim de semana!

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    1. Eventualmente confere, em traços gerais, com o primeiro decanato de Escorpião..:-) Mas a iconografia portuguesa, até aos finais do séc. XIX, é uma miséria franciscana..:-((( Nunca consegui, por exemplo, uma imagem de Cruz e Silva, que foi pessoa importante (Desembargador, no Rio de Janeiro, julgou a Inconfidência Mineira), para além de bom poeta, ou de Correia Garção.
      Os escritos de JDRC, não sendo de grande qualidade literária, além de divertidos, são um documento sociológico importante da época em que viveu.
      Bom fim-de-semana, também!

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  3. Actualmente só alguns almanaques mantêm estas 'adivinhações' nem os periódicos o fazem, uma pena. Estamos a perder algum do nosso património imaterial de tradição oral que se preservava nestas publicações.
    Bom fim-de-semana.

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    1. Tem toda a razão...e é pena. Apesar de eu ter boa memória, nunca memorizei, com facilidade, nem anedotas, nem adivinhas. Vão-se perdendo, com o tempo.
      Retribuo, cordialmente!

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