quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Um soneto de Manuel Machado


Manuel Machado (1874-1947), que nasceu em Sevilha, era irmão mais velho de Antonio Machado. Ambos, poetas. Manuel formou-se em Filosofia e Letras. Sendo mais ortodoxo do que o irmão Antonio, trabalhou uma boa parte da sua vida como bibliotecário. O soneto que irei traduzir (Alfa y Omega) e transcrever, em seguida, insere-se num tema ou exercício intelectual que já tentara, como desafio, séculos atrás, Guilherme de Aquitânia quando inicia um poema a dizer que queria fazer uma poesia " de puro nada". Quevedo também aceitou o repto, num soneto bem interessante. E, entre nós, Alexandre O'Neill também não resistiu ao desafio. Entre o lúdico e o difícil exercício intelectual, aqui vai a tradução do soneto de Manuel Machado:

Cabe a vida inteira num soneto
começado com lânguido descuido,
e, apenas começado, já terá passado
a infância, imagem da primeira quadra.

Chega a juventude com o seu segredo
da vida, que passa, inadvertido,
e que se vai também, que já se foi,
antes de entrar o inicial terceto.

Maduros, olhando o ontem regressamos
magoados e, ansiosos, à manhã,
e assim o primeiro terceto dissipamos.

E, quando no último terceto entramos,
é para ver com experiência vã
que se acaba o soneto...E que nos vamos.

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