domingo, 4 de setembro de 2011

O tempo que passa


Hoje ouvi, com um intervalo máximo de 5 minutos, na rua, o poético vocábulo: caralho, vindo de duas pessoas diferentes - já estou habituado. Já não me escandalizo. Aliás, não sou puritano.
Da primeira vez, o impropério vinha de uma cave obscura, cujo postigo esconso ia ao nível dos meus pés e não deixava adivinhar  o rosto do autor. Pelo tom de voz, audível, seria um homem de meia idade e sublinhava , com veemência, a falta de compromisso, por parte de outrém.
O segundo palavrão, pronunciou-o uma jovem rapariga, de corpo ginasticado e elegante, que ia à minha frente pela rua, falando ao telemóvel. Julgo que falaria com o namorado e queixava-se, com raiva, de alguma coisa. Ia fumando, entretanto. Cerca de 20 metros depois, atirou com o cigarro a meio, impaciente, para o chão.
Eu ia curvado pela comodidade, idade e circunstância, mas pensei que até os impropérios vão perdendo a força e a razão pela frequência com que são usados.

4 comentários:

  1. E como eu estou velho. Ainda sou do tempo em que dizer bestial era meio-feio... lembro perfeitamente uma frase lá de casa: Bestial, ainda vai que não vai (embora não goste)... agora porreiro! arranha-me muito os ouvidos.

    Hoje fui ver um filme em que o vocabulário é bastante forte, embora eu não seja moralista.... nem exemplo para ninguém.

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  2. Eu creio, JAD, que a idade nos desbraga (e já desbragava, um pouco, há 30 ou 40 anos) a linguagem. Lembro-me de alguns exemplos. Mas, hoje em dia, a intensidade e frequência (mesmo nos muito jovens) são de tal ordem que acabam por incomodar.

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  3. :-)
    É que os palavrões perderam o seu significado. Mas, de vez em quando, arranham o ouvido.
    O que eu não suporto é ver gente a cuspir para o chão e agora vêem-se imensas mulheres também a fazê-lo.

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  4. A perda de princípios não foi só ética, mas também de comportamento, MR. E vamo-nos habituando, infelizmente...

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