Desde remota antiguidade que os milagres eram registados pelos homens da Igreja, não só para consubstanciar a importância dos santos e santas a quem os atribuíam, como também para aumentar a fé dos crentes. Normalmente de forma sucinta e em manuscrito, em anotação formal. Mais raramente, apresentados em registo literário, com algum recorte de qualidade. Destes últimos são exemplo os Milagres de Nuestra Señora, de Gonzalo de Berceo, os Milagres de Notre Dame, atribuídos a Gautier de Conci, ou, mais lateralmente, as Cantigas de Santa Maria, de Afonso X.
Dos milagres atribuídos a Nossa Senhora da Oliveira, que se venera na Colegiada de Guimarães, há vários manuscritos conhecidos, com a sua descrição, um dos quais remonta ao séc. XIV. Os registos abarcam curas de endemoninhados, cegos, surdos, tolhidos dos membros e mudos, principalmente. Cristina Célia Fernandes, numa tese de Mestrado em História e Cultura Medievais, estudou o apógrafo de 1351, transcrevendo também alguns dos milagres atribuídos a Nossa Senhora da Oliveira. A tese veio a ser editada em livro no ano de 2006, com o título "O Livro dos Milagres de Nª Sª da Oliveira da Real Colegiada de Guimarães". Vamos transcrever, tal como aparece no livro, o milagre 21. Segue:
"No dicto dia ffez milagre em huu moço pequeno que a per nome Johanne e disse que morava na ffreguesia de Sam Martinho de Lagares e [que tinha] a mão seestra torta e os dedos entoleitos e saraua a mãao e que el disse e os da terra que o sabiam que nunca aquella mãao aurira senom torta em este dia fforom na vila o Conde Do[m Pedro] e o arçabispo dom Goçallo Pereira e muytas companhas e o chantre e os clerigos e coonygos do coro veendo estes millagres fforo lhy ffazer prosiçom eu Affonso Perez tabliom de Guimarães este millagre escreuy testemunhas Gil Lourenço Gil Perez Martjnz Annes ta[bliom Vaa]sco Domjnguez almoxeiffe Btalameu Perez e outros/"
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