A quem frequenta alfarrabistas, ou compra livros em segunda mão, decerto já lhe terá acontecido deparar-se-lhe com um livro usado em bom estado e, praticamente, virgem; quero eu dizer: com as páginas por abrir.
São normalmente obras académicas e têm, muitas vezes, o nome do presenteado, na dedicatória do ofertante. Outras vezes, o ofertado teve a preocupação de riscar a dedicatória, ou rasgar a página que permite desvendar estes sinais de respeito e amizade. Mas é mais raro este cuidado. E a dedicatória permite-nos imaginar que, quem recebeu o presente, não teve tempo ou pachorra para abrir e ler o livro. É, no fundo, uma coscuvillhice ou uma inconfidência abstracta...que se transmite para fora dessa intimidade e que nem sempre ficará bem ao ofertado, porque não só não leu o livro, como não teve pejo em desfazer-se do volume, vendendo-o, provavelmente, por tuta e meia a um alfarrabista.
William Faulkner (1897-1962), escritor americano que recebeu o Nobel em 1949, não é um autor fácil - a sua leitura é áspera, embora profunda em densidade e conteúdo. E, desde a leitura de "Palmeiras Bravas", traduzido e excelentemente prefaciado por Jorge de Sena, que eu ando a tentar ler as obras principais do autor americano. Ontem adquiri, num alfarrabista de Campo de Ourique, o "Santuário" numa edição da Editorial Minerva, traduzido por Marília de Vasconcelos e editado no início dos anos 70 do século passado. Custou-me 3,00 euros. Das 278 páginas do livro, apenas 65 foram abertas (e lidas?). Donde pude concluir, embora sem fundamento rigoroso, que a Paloma, que fazia anos a 6 de Abril, não teve paciência ou tempo para o ler. E isto porque, na 3ª página da obra, está escrito à mão o seguinte: "6/4/75 - Para a Paloma c/ um beijão de Parabéns, da Mena".
Não me recordo de ter lido o "Santuário", mas gosto muito de Faulkner.
ResponderEliminarA Paloma, se calhar, gostava mais de Corin Tellado.
Tb não me lembro de ter lido este livro. Houve uma época em que li muitos Faulkner.
ResponderEliminarPois é, Miss Tostoi, que deus ponha a virtude na bem-aventurada Paloma.
ResponderEliminarEu tinha lido muito poucos, MR. Mas, neste último ano já comecei o 3º. É necessária persistência, porque compensa.
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