Numa entrevista recente, Javier Marías (1951) reflecte, entre outras coisas, sobre a sua actividade de tradutor como sendo uma via de consolação. Em tempos, diria eu, de defeso e de esterilidade criativa própria, sobretudo. E o escritor acrescenta que é como que se houvesse um rascunho inicial, sobre o qual é necessário trabalhar, aperfeiçoando.
O fazer sua a voz dos outros tem aspectos muito próximos da criação, numa euforia porventura menos febril e por caminhos mais definidos. Como também alguém já disse que, mais que bem conhecer o idioma de que se traduz, é absolutamente obrigatório dominar amplamente a língua (sua, na maior parte dos casos) para que se verte.
Importa muito menos, porém, que o estado de espírito do tradutor se coadune com o teor do texto, ou possa ser paralelo à energia criativa original que o desencadeou. Há sempre qualquer coisa de caótico, inconsciente ou não domável, por inteiro, no fenómeno e forças da criação. A reordenação faz-se, normalmente, numa fase posterior, mais consciente.
Importa muito menos, porém, que o estado de espírito do tradutor se coadune com o teor do texto, ou possa ser paralelo à energia criativa original que o desencadeou. Há sempre qualquer coisa de caótico, inconsciente ou não domável, por inteiro, no fenómeno e forças da criação. A reordenação faz-se, normalmente, numa fase posterior, mais consciente.
Um grande tradutor é uma preciosidade. Um mau tradutor pode arruinar um bom escritor. E por cá são cada vez menos os bons tradutores que estão para se sujeitar a ser pagos a menos que datilógrafos. A não ser que queiram muito traduzir o livro.
ResponderEliminarBom dia!
E, por vezes, até um "grande" escritor traduz mal. Fala-se das péssimas traduções que Celan fez de Simenon - deve ter sido sempre a aviar e para ganhar uns cobres...
EliminarSena e Eugénio, no entanto, trabalharam sempre com dignidade, respeitando os seus confrades. Serras Pereira é outro bom exemplo, a traduzir Steiner.
Bom fim-de-semana.
É realmente um trabalho que nem todos sabem fazer correctamente, sem trair a ideia inicial do autor. Achei interessante o texto. Bom dia!
ResponderEliminarDei a minha modestíssima e curta experiência, de algumas traduções que vou fazendo no Arpose, como contribuição para o que escrevi e, por isso, agradeço que tenha gostado do poste.
EliminarUma boa noite.
Sem a sua como diz, modesta experiência, não teriamos tido conhecimento
ResponderEliminarde alguns textos traduzidos por si. E da minha parte agradeço o seu
empenhamento. Desejo-lhe uma boa semana.
Não me parece bem e evito sempre que posso usar, no Arpose, línguas estrangeiras ou idiomas que não sejam o nosso. A menos que haja razão própria ou justificação suplementar que o justifique. Que diabo!, estamos em Portugal e entendemo-nos em língua portuguesa. E não devemos pensar que, quem nos visita, seja obrigado a saber ler e falar francês, inglês, alemão... E, se nós entendemos esse texto, porque é que não o traduzimos? Por preguiça, para alardear cultura, por timidez de errar?
EliminarDito isto, Maria Franco, muitas das traduções que faço, se me parecem bem feitas, dão-me satisfação e são-me gratificantes, logo em si.
Agradeço as suas amigas palavras e retribuo os seus amáveis votos.