sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Qualidade e quantidade


A nossa época é generosa e descuidada. Talvez por falta de critério. O consumismo desenfreado ajudou, os shares das tevês impuseram-se, tiranicamente, o feicebuque e os seus likes desmiolados contribuiram em grande. E até mesmo algumas publicações, com algum prestígio, se contagiaram por esta praga de números, que desprezam a qualidade.  Ou, pelo menos, são muito condescendentes e permissivos.
Já  aqui falei, há pouco tempo, na diferença numérica das escolhas anuais do TLS (20 livros) e Le Magazine Littéraire (100), quanto a opções de leitura aconselhadas. 
Uns bons anos atrás, L'Obs capeou de título e nomeou 20 filósofos do futuro. Portugal estava representado, honrosamente, por José Gil, nos happy few. Na última edição da revista literária francesa Le Magazine Littéraire a caridade generosa e de mãos rotas continua a ser norma. São, nada menos de 35, os pensadores destacados. Só que, desta vez, não há nenhum pensador português na lista.
Pudera!, quando alguns, pela escassez nacional e falta de sentido crítico, consideram Teixeira de Pascoaes como filósofo, o que seria de esperar das promessas destas novas gerações?
Generosidade, sim, mas devagar, pelo menos uma vez... 

4 comentários:

  1. Por vezes interrogo-me se os frequentadores do facebook já contabilizaram as horas que perdem a colocar likes? Recentemente dediquei um dia da minha vida a ler um livro que prometia faisão e depois servia frango e ainda por cima frio e decidi racionalizar melhor o meu tempo, embora nunca dispense a leitura deste magnifico blogue.
    Quanto ao "Le Magazine Literaire", que após ter deixado de ser uma revista fabulosa sobre livros, com excelentes dossiers (o que me levava a comprá-la), decidiu primeiro passar a papel reciclado e novo formato, mas as queixas e protestos devem ter sido tantos que regressaram ao antigo formato e papel, para mais tarde, passarem a ser esta miscelânea de artigos, sem eira nem beira, para ampliar o seu mercado. É triste este século XXI!
    Muito boa tarde!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Li, há uns tempos, creio que no TLS, uma espécie de contabilização dos tempos gastos, pelas mais tenras gerações, nos novos apetrechos tecnológicos - era uma enormidade. E, pior ainda, em circuito fechado.
      De um modo geral, a ideia que se tem é que tudo sofreu um abaixamento de qualidade: profissões, democracia, serviços,publicações (literárias ou não), princípios, políticos, apesar de termos à disposição uma gama de apoios que só nos facilitam viver e melhorar o que produzimos...
      Como isto acontece, é que eu também não sei explicar.
      L'Obs e Le Magazine Littéraire, por exemplo, não fogem à regra desse declínio de qualidade. Creio, no entanto, que ceder à facilidade para alargar os utentes e fruidores, foi um erro.
      Um bom fim-de-semana.

      Eliminar
  2. Pois eu tb era compradora assídua de Le Magazine Littéraire e da Lire, mas há é raro comprá-las. Folheio-as, os dossiers são miseráveis e por lá ficam. Hoje lá irei até à livraria dar uma voltinha nas revistas e pelas mesas dos livros.
    Quanto à filosofia portuguesa, o que é isso? «Rien de rien»! Pensadores ainda aparece um de vez em quando, agora filósofos...
    Bom dia!

    ResponderEliminar
  3. Concordo inteiramente consigo: pensadores ainda temos, agora filósofos, estamos conversados.
    A fraca qualidade das publicações literárias é geral. Apesar de tudo, acho que o TLS ainda mantém uma grande dignidade e qualidade, críticas.
    Bom fim-de-semana.

    ResponderEliminar