A nossa época é generosa e descuidada. Talvez por falta de critério. O consumismo desenfreado ajudou, os shares das tevês impuseram-se, tiranicamente, o feicebuque e os seus likes desmiolados contribuiram em grande. E até mesmo algumas publicações, com algum prestígio, se contagiaram por esta praga de números, que desprezam a qualidade. Ou, pelo menos, são muito condescendentes e permissivos.
Já aqui falei, há pouco tempo, na diferença numérica das escolhas anuais do TLS (20 livros) e Le Magazine Littéraire (100), quanto a opções de leitura aconselhadas.
Uns bons anos atrás, L'Obs capeou de título e nomeou 20 filósofos do futuro. Portugal estava representado, honrosamente, por José Gil, nos happy few. Na última edição da revista literária francesa Le Magazine Littéraire a caridade generosa e de mãos rotas continua a ser norma. São, nada menos de 35, os pensadores destacados. Só que, desta vez, não há nenhum pensador português na lista.
Pudera!, quando alguns, pela escassez nacional e falta de sentido crítico, consideram Teixeira de Pascoaes como filósofo, o que seria de esperar das promessas destas novas gerações?
Generosidade, sim, mas devagar, pelo menos uma vez...
Por vezes interrogo-me se os frequentadores do facebook já contabilizaram as horas que perdem a colocar likes? Recentemente dediquei um dia da minha vida a ler um livro que prometia faisão e depois servia frango e ainda por cima frio e decidi racionalizar melhor o meu tempo, embora nunca dispense a leitura deste magnifico blogue.
ResponderEliminarQuanto ao "Le Magazine Literaire", que após ter deixado de ser uma revista fabulosa sobre livros, com excelentes dossiers (o que me levava a comprá-la), decidiu primeiro passar a papel reciclado e novo formato, mas as queixas e protestos devem ter sido tantos que regressaram ao antigo formato e papel, para mais tarde, passarem a ser esta miscelânea de artigos, sem eira nem beira, para ampliar o seu mercado. É triste este século XXI!
Muito boa tarde!
Li, há uns tempos, creio que no TLS, uma espécie de contabilização dos tempos gastos, pelas mais tenras gerações, nos novos apetrechos tecnológicos - era uma enormidade. E, pior ainda, em circuito fechado.
EliminarDe um modo geral, a ideia que se tem é que tudo sofreu um abaixamento de qualidade: profissões, democracia, serviços,publicações (literárias ou não), princípios, políticos, apesar de termos à disposição uma gama de apoios que só nos facilitam viver e melhorar o que produzimos...
Como isto acontece, é que eu também não sei explicar.
L'Obs e Le Magazine Littéraire, por exemplo, não fogem à regra desse declínio de qualidade. Creio, no entanto, que ceder à facilidade para alargar os utentes e fruidores, foi um erro.
Um bom fim-de-semana.
Pois eu tb era compradora assídua de Le Magazine Littéraire e da Lire, mas há é raro comprá-las. Folheio-as, os dossiers são miseráveis e por lá ficam. Hoje lá irei até à livraria dar uma voltinha nas revistas e pelas mesas dos livros.
ResponderEliminarQuanto à filosofia portuguesa, o que é isso? «Rien de rien»! Pensadores ainda aparece um de vez em quando, agora filósofos...
Bom dia!
Concordo inteiramente consigo: pensadores ainda temos, agora filósofos, estamos conversados.
ResponderEliminarA fraca qualidade das publicações literárias é geral. Apesar de tudo, acho que o TLS ainda mantém uma grande dignidade e qualidade, críticas.
Bom fim-de-semana.