Se não nos dotaram, a nós portugueses, da capacidade inata de filosofar, deram-nos, em compensação, alguns bons poetas que sabem reflectir. E a Poesia é, algumas vezes, a parente mais próxima da Filosofia. Na sua forma essencial de interrogar a vida e o mundo.
Numa estreita linhagem que vem de Sá de Miranda, passa por Francisco Manuel de Melo, toca de raspão em Herculano e Quental, e desemboca na foz multímoda de Pessoa e algum Sena, a poesia de Fernando Echevarría (1929) não renega esse parentesco, que vem, dignamente, de longe.
Editado recentemente (Setembro de 2018), pela Afrontamento (Porto), Via Analítica, de Fernando Echevarria, vem pensar connosco.
Como neste poema sem título, na página 11, deste belo livro.
Pensar ajusta-se ao momento. Tenta,
sabendo que é preciso que o afecto
tome conta de toda a inteligência
para mobilizar o pensamento.
E a mobilização modula a empresa
conforme o ritmo se desprender, concreto,
do corpo maciço da matéria
para limpo o mover e transcendê-lo.
E, daí, alargar a transparência
a um mundo fecundando-se a si mesmo.
Feliz, por dar lugar a essa doença
que punge, e cresce por um azul sereno
de pautas perecíveis. Diligência
a expandir-se, cumprindo um universo
interior, a transferir a pena
da partitura para um fora aberto.
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