sábado, 5 de janeiro de 2019

Literatura para ouvir e literatura para ler, segundo Auden


Qualquer fanático que, porventura, tentasse decorar todo o Proust, palavra por palavra, e tentasse depois recitá-lo em público, numa sala de estar, depois do jantar, imagino eu que as probabilidades seriam grandes de que, em pouco mais de meia hora, uma boa parte da audiência começaria a dormir e o seu veredicto sobre Remembrance of Things Past concluiria que se tratava de uma história entediante e incompreensível. A dificuldade de avaliar, favoravelmente, uma edição impressa de contos folclóricos, que nunca foram pensados para serem objecto particular de leitura, é também grande. A nossa sensibilidade para a literatura transmitida oralmente é distorcida pela natureza peculiar deste tipo de narrativas, que ainda se encontram vivas. Para nós, um conto falado é um conto que não se deve imprimir...

W. H. Auden (1907-1973), in The Dyer's Hand (pg. 149).

2 comentários:

  1. Não gosto nada de ouvir ler livros. Acho chato e perco-me. Áudio livros só para cegos ou analfabetos.
    Quanto à literatura oral, se não fossem as recolhas impressas hoje não se conheceria a maior parte dessa literatura. Um dos exemplos disto são as lengalengas ou os contos dos Irmãos Grimm, cujas adaptações ensina(ra)m muita gente a aprender a ler ou a gostar de livros.
    Bom dia!

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    1. Estive, vai não vai, para acrescentar uma nota pessoal a esta citação de Auden. Porque se concordo inteiramente com a primeira parte, tenho grandes dúvidas em relação à segunda parte da proposição.
      E, como a MR muito bem refere, se não houvesse recolhas (escritas), não haveria memória dessas tradições e testemunhos folclóricos, hoje em dia.
      Bom Sábado.

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