Já gostei muito de Lorca, numa idade em que seria natural tê-lo como referência, em poesia. Depois, o destino trágico e injusto iluminou a sua curta vida do tom próximo de epopeia que fascina a aventura sonhada dos dias da juventude de cada um. Se, e quando, esses sonhos existem.
Mas, lentamente, fui-me, com a idade, afastando dos seus versos. O lugar de eleição foi sendo ocupado primeiro por Jiménez, de quem o Eugénio me falou, e, depois, num outro registo, chegou-me Quevedo, na forma avassaladora do soneto Desde la Torre:
Retirado en la paz de estos desiertos,
con pocos pero doctos libros juntos,
vivo en conversación con los difuntos
y escucho con mis ojos a los muertos.
...
Eu acho que Paco Ibáñez percebeu isso, ao musicar (no vídeo do poste anterior), em tons muito diferentes, as palavras sensuais de Lorca e os versos terrestres de Quevedo. A secura essencial dos trinados aplicados a Quevedo contrasta com os requebros utilizados para os versos de Lorca.
Sabiamente.
Ao longo dos anos os nossos gostos sofrem muitas vezes alterações.
ResponderEliminarEu na música sempre fui muito constante. O mesmo não digo das leituras.
Mas como sempre, gostei do que escreveu. Boa noite.
Não renego os meus gostos passados mas, de um modo geral, com o tempo, foram-se-me criando novas hierarquias de grau. Nuns casos por maior exigência, noutros, por reavaliação mais justa.
EliminarObrigado.
Uma boa noite, também.