Gosto muito das palavras do meu povo.
Parece que se tocam e se afagam.
Os livros, não; as páginas quase se movem
como fantasmas.
E as minhas gentes dizem coisas formidáveis
que fazem estremecer a gramática.
Quantas delas de cortar a frase,
mas quanta voz rendilhada!
Dá por vezes vergonha incendiar a luz,
quero eu dizer um verso pela branca página,
diante destes homens de sílabas amplas
que se nutrem de nacos de palavras.
Lembro-me que uma tarde,
na estação de Almadén, uma velha
sentenciou, devagar: "Sim, sim, mas o céu e o inferno
está aqui." E fincou a frase
sem o ditongo que faltava.
Blas de Otero, in Revista de Occidente, Março de 1964 (pg. 299).
Gostei muito do poema. Gosto de palavras. Bom dia!
ResponderEliminarUm poema simples, mas de limpa emoção sadia.
EliminarTambém eu gosto.
Bom dia.
Também gostei das palavras do poema.
ResponderEliminarRenasceram, quando aqui as escreveu, vindas
de um longínquo 1964.
De algum modo, tentei dar voz portuguesa a estas belíssimas palavras de um poeta Basco, um pouco esquecido...
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