Quem frequenta a História, e com ela convive, conhece com certeza a expressão: "É fartar, vilanagem!", atribuida ao Conde de Avranches (1390-1449), pouco antes de morrer, seguindo o seu amigo das sete partidas, Infante D. Pedro (1392-1449), que antes falecera no desenlace trágico da batalha de Alfarrobeira.
A frase não estará correcta, porém. Assim como correm incorrectas as últimas palavras de Sidónio Pais, ao ser baleado à saida da estação do Rossio, em Dezembro de 1918. Perpetuou-se o dito: "Morro bem. Salvem a Pátria!", em tom épico. No entanto, corrigida por algumas testemunhas presenciais, a frase de Sidónio foi muito mais prosaica: "Não me apertem, rapazes!"
Quanto ao Conde de Avranches, e em abono da verdade, o melhor será dar voz ao licenciado Gaspar Dias Landim, na sua Crónica do Infante D. Pedro, que assim narra os últimos momentos do grande amigo de D. Pedro:
"... O Conde de Abranches, causa desta destruição, depois de por bom espaço ter pelejado e feito grande damno nos d'El-Rei (D. Afonso V), e tendo já recebido algumas feridas, vendo-se cançado, fraco e já desfallecido, tornou à sua tenda, e pediu de comer e ahi soube da morte do Infante (D. Pedro), dizendo logo que nunca Deus quizesse que elle lhe faltasse da promessa e voto que tinha feito de morrer com elle; depois de ter comido e bebido, se tornou à batalha contra os d'El-Rei, que andavam encarniçados em dar mortes, e se lançou entre elles, fazendo algum damno, como vinha de refresco; mas tardou pouco que cahisse atravessado de muitas lançadas e feridas mortaes, e em lugar do doce nome de Jesus, que naquella ultima hora lhe podera ser de grande bem, acabou com estas palavras: Ora fartar, rapazes, e vingar, villãos." (pg. 114).
Não sabia a quem era atribuída a expressão «É fartar, vilanagem!», mas esta é mais bem mais simples que «Ora fartar, rapazes, e vingar, vilãos». É natural que passando de boca em boca tenha chegado à primeira forma.
ResponderEliminarBom dia!
Foi um ajustamento, por certo..:-)
EliminarBom Sábado.