sexta-feira, 18 de agosto de 2017

Ficções


É ponto assente, na opinião da crítica inglesa, que, a partir da I Grande Guerra e, com muito maior intensidade, a partir do final da II G. G., o cenário da ficção britânica passou a ser mais citadino, quando, anteriormente, tinha um predomínio campestre. A transumância das populações para as cidades, com a Revolução Industrial, foi apenas o início de um processo, que a ficção, e até mesmo a poesia, acompanharam de perto.



Em Portugal, Eça foi sobretudo um ficcionista de cidade, se exceptuarmos A Ilustre Casa de Ramires e o híbrido A Cidade e as Serras, mas quase toda a ficção camiliana é situadamente campestre, como grande parte da literatura portuguesa anterior. O Neo-realismo privilegiou largamente os campos (Redol, Manuel da Fonseca) e as zonas ribeirinhas ( Soeiro Pereira Gomes e Loureiro Botas) e, que me lembre, apenas Tavares Rodrigues e Namora (na sua segunda fase) se atreveram a devassar as ruas mais escuras e escusas da cidade. Ainda hoje, no entanto, Rentes de Carvalho e Riço Direitinho encenam as suas ficções campestres, em algumas obras.


Embora eu frequente, pouco e mal, a ficção portuguesa de agora, julgo que os cenários são, maioritariamente, citadinos. Passou o tempo de Aquilino, embora o Mestre tenha situado alguns dos seus romances em Lisboa. Como, de algum modo, Miguéis, mais cosmopolita, porém. A obra de Carlos de Oliveira divide-se, ambivalente. Mas, para os novos escritores, o cenário é urbano, até porque são, na maioria, citadinos os seus leitores e a vivência de ambos. E o regresso da alguns vegans aos campos e à natureza, bem como a fruste troca da cidade pelo campo, de alguns jovens casais idealistas, não irá alterar o cenário das ficções portuguesas - creio eu.

6 comentários:

  1. Gostei do post, mas acho que tudo tem a ver com a vivência dos escritores. O Urbano também tem uns romances (ou contos, já não me lembro) localizados no seu amado Alentejo.
    Bom dia!

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    1. A vivência dos autores, realmente, é fundamental. Que o diga Vergílio Ferreira, citadino incurável, com a sua Beira, Évora e Fontanelas..:-)
      Bom dia!

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    2. Que não gostava nada de viajar...
      Bom sábado!

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    3. Mas deixava a Mulher fazê-lo... embora não a acompanhando.
      Mas eu, com o tempo, cada vez acho mais, também, as viagens um incómodo.
      Bom fim-de-semana!

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  2. José Rodrigues Miguéis e todos os seus
    magníficos livros. A Escola do Paraíso é
    um retrato brilhante de Lisboa e é um dos
    livros da minha vida. Foi apenas um desabafo.
    E gostei muito deste poste.

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    1. O livro que cita é também o que eu prefiro de Miguéis, embora haja quem opte por "O Milagre segundo Salomé", que eu já li muito tarde.
      Obrigado, Maria Franco.

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