segunda-feira, 4 de junho de 2012

A propósito das "Oeuvres" de E. M. Cioran


O que de melhor encontro, na chamada crítica inglesa, é a capacidade de compor um universo objectivo, não descurando, ao mesmo tempo, uma análise competente da obra em causa. Por outro lado, estas recensões dão-nos sempre uma ideia aproximada do objecto em questão: contam a sua "história". Seja a abordagem feita sobre ficção, pintura, até mesmo, filosofia.
Num dos últimos TLS (nº 5695), a propósito da publicação (2011), pela Gallimard, da obra completa de E. M. Cioran (1911-1995), Mairéad Hanrahan dá-nos uma síntese ("To recover from being born") do pensamento do filósofo franco-romeno, através de citações nucleares da sua própria obra.
É esse pequeno excerto que vou tentar traduzir. Segue:
"...Para Cioran, a raiz de todas «as ideologias, doutrinas e farsas sanguinárias» reside na própria força da vida, no instinto vital que leva os homens a acreditar apaixonadamente numa única coisa, em detrimento de outras. «Sinais da vida: crueldade, fanatismo, intolerância; sinais de decadência: afabilidade, compreensão, indulgência.» Uma vez que «toda a fé exerce uma forma de terror», segue-se que os cépticos são «os verdadeiros benfeitores da humanidade». Ainda que os cépticos sejam, eles próprios, fanáticos no seu cepticismo: «o homem é o ser supremo do dogmatismo". A vida é uma tragédia sem sentido que se torna terrível pelo propósito humano de lhe atribuir um significado, a fim de criar uma ilusão em que se possa acreditar. ..."
Para quem está, minimamente, familiarizado com a obra de Cioran, mesmo que não se concorde com os seus argumentos, esta súmula de Mairéad Hanrahan faz todo o sentido.

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