Qualquer acervo temático, quer ele seja bibliográfico, numismático, medalhístico ou outro, acaba por integrar, necessariamente, outros conjuntos ou colecções anteriores que, muitas vezes por acaso ou vontade alheia, lá foram parar. E que, de forma inesperada, muitas vezes, vieram ter connosco, ora de forma arrumada, ora desorganizada.
Há, no mínimo, na minha colecção de selos, quatro fundos mais antigos que, por morte dos anteriores proprietários, acabaram por se reunirem, unitariamente, ao meu inicial conjunto pessoal filatélico.
A parte mais significativa, na minha colecção de selos, dos Antigos Estados Alemães e do Deutsches Reich pertencia a um jovem (F. S.), que morreu na Guiné colonial, em tempos difíceis de guerra dos anos 60. A colecção foi-me doada pelo irmão, C. S., meu grande amigo.
De Moçambique, me ficou um acervo significativo de selos que T. P. juntara. Jovem ainda, no regresso nocturno da Póvoa de Varzim, adormecera ao volante e embatera num poste, que lhe caiu sobre o tejadilho do carro, atingindo-o fragorosa e fatalmente. Não tinha chegado aos 30 anos... Mais uma vez, o irmão mais velho pensou em mim, como digno e respeitador herdeiro dessa colecção.
Em anos mais recentes de final do século passado, e por morte natural, em provecta idade, do dono de uma boa colecção de selos novos (apenas da República), recebi cerca de metade desse acervo interessante e muito bem cuidado, que veio enriquecer o meu conjunto filatélico.
Se hoje são já muito poucas as lojas filatélicas com alguma importância (Molder, Domingos Sacramento e Filatelia do Chiado, com dimensão e fundos significativos) em Lisboa, nos anos 60/70 elas prosperavam e seriam talvez quase um dezena distribuídas pela cidade (na rua do Arsenal, na avenida da Liberdade, na rua do Crucifixo, a Eládio dos Santos, Adelino Cardoso, a Afinsa...). Além disso, havia as actividades marginais de agentes sem banca própria e intermediários que facilitavam contactos, davam notícias (filatélicas) e favoreciam transacções de colecções importantes, ajustando ainda pormenores dos acordos de negócios.
No capítulo dos profissionais secundários, havia a especialidade dos "pacoteiros" que arrebanhavam toda a especialidade de selos, os tratavam e, depois, os agrupavam em montinhos de 100 unidades iguais, vendendo-os depois às casas filatélicas, para estas fazerem envelopes de 50, 100, 150, 200 diferentes... por países que, por sua vez, eram adquiridos por filatelistas em início de carreira.
Pois, foi um acervo desta natureza que veio a integrar a minha colecção, recentemente, por oferta amiga. Se não há raridades, em princípio, no conjunto, os inúmeros pacotes dar-me-ão imenso entretém procurando variedades (cores ou tonalidades e pequenos erros), carimbos pouco frequentes (Escalhão, por exemplo, localidade no concelho de Pinhel, como já encontrei dois) e outras particularidades filatélicas.
Vou a meio desse trabalho lúdico...
Obrigado, A. de A. M.!