Levantou-se o clamor das prostitutas
(Não o digo por arte decadente),
Verdadeiro clamor que, de repente,
Acorda o eco em maré alta às grutas.
Lá se chamaram mutuamente frutas
Do pomar, e outros nomes. Comovente!
No Terreiro da Péla ainda se sente
O picante sabor destas disputas.
E, entretanto que a noite refluiu
Outra vez ao silêncio começado
E de novo as janelas entanguiu,
As perdidas mulheres cantam o fado.
Eu penso nestas coisas, debruçado
Sobre as águas poéticas do rio.
Vitorino Nemésio (1901-1978), in Versos de Coimbra.
Escrevi um comentário que ficou perdido. Gostei dos versos e vou guardar alguns, para usar.
ResponderEliminarFolgo que lhe tenha agradado o soneto de Nemésio.
ResponderEliminarUma pequena delícia. (E o açoriano já deveria ter pronúncia lisboeta q.b. para fazer rimar «entanguiu» com «rio»...)
ResponderEliminarNunca perdeu o sotaque, era uma das suas imagens de marca. Mas era também um grande Senhor da língua e cultura, portuguesas.
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