quinta-feira, 26 de abril de 2018

Recuperado de um moleskine (30)


... em discretos pés de lã, mal pressentidos, os pequenos felinos silenciosos inspeccionam os recantos, vigiam o seu próprio espaço, assegurando a sua posse, e deslocam-se, subtis, por toda a casa. Mais raramente há um arrufo entre eles, com ameaça levantada de patas em que as unhas se descarnam como lâminas afiadas.
A Miki vem recolher dos humanos, ciclicamente, algum afago, ou com blandícia vem rodear e roçar as nossas pernas, de rabo alçado como se fora uma cobra vertical em contorções medidas. De todos, só Il Divo (assim o nomeio, para mim) totalmente nos ignora, olímpico e distante. Assumindo uma postura altiva e imponente, a que o seu pêlo angorá, e a enorme mancha branca, no peito, dá contornos de juba leonina em miniatura. Domésticos e domesticados, quase nunca miam.
Só o ruído longínquo da tempestade, se se repetirem os trovões, poderá perturbar a sua segurança altiva, transformando-os, por momentos, em simples gatos ansiosos, possuídos pela desordem das emoções, a que nem a presença dos humanos dá qualquer serenidade animal, em relação à Natureza.
Eles lá saberão porquê...

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Muito obrigado, Margarida.
      É sempre muito gratificante sentirmo-nos acompanhados..:-)
      Bom dia, também.

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  2. Uma análise aos gatos! Curiosos de mais para
    o meu gosto. Uma característica que aprecio,
    pelo menos no gato da minha filha, deita-se
    de barriga para cima para lhe fazermos festas.
    E assim se arranjou assunto. Boa noite.

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    1. Pois, a "Miki", por vezes, também optava por essa posição de abandono expectante..:-)
      Boa noite, também.

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  3. Também gostei do texto.
    Bom dia!

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