segunda-feira, 2 de abril de 2018

Bibliofilia 161


No passado ano de 2017, o nome de Jozé Mazza (?-1797?) nada me diria, mas a compra recente e leitura de uma sua écloga, editada em 1776, fez-me tentar saber alguma coisa sobre a sua vida e acções terrestres.
Inocêncio Francisco da Silva, no seu Dicionário de autores, dá-o como filho de italianos (Giovanno Tomaso Mazza e Maria Catharina Judici). O pai teria pertencido à orquestra de câmara de D. João V, onde ele teria ingressado, também, posteriormente. Jozé Mazza terá conhecido na corte o futuro bispo de Beja, Frei Manuel do Cenáculo, iluminista e mecenas, e, talvez por isso, viria a ser, mais tarde, professor de italiano no colégio deste seu protector, com quem se correspondeu, por cartas que lhes sobreviveram. O músico e poeta teria falecido em Faro, no ano de 1796 ou 1797. (Será que os Júdices algarvios, hoje grandemente lisboetas, terão a ver com esta semente musical e lírica?)



Grande parte da poesia que se fez, durante o século XVIII português, não merece grande atenção, se exceptuarmos algumas sátiras bem conseguidas e com umas pinceladas realistas de ambientes e costumes domésticos que pontuam uns poucos versos inspirados (de Garção e Jazente, por exemplo). Mas não foi pela qualidade de execução poética que eu adquiri este folheto de 24 páginas, de Jozé Mazza, impresso em Lisboa por Caietano Ferreira da Costa, em 1776, integrando uma écloga, antecedida por um castiço antelóquio de 9 páginas, do autor. O corpo principal do poema, abre com uma sábia epígrafe de Diogo Bernardes:

De condição humana he não ver traves
Em nossos próprios olhos, nos alheios
Arestas leves nos parecem graves.





Acontece que me enfeiticei, um pouco, pela primorosa e original encadernação em pele, com ferros a ouro, apesar do miolo do folheto ter sido excessivamente aparado, embora sem prejudicar o texto. O voluminho custou-me 20 euros, no meu alfarrabista de referência, no passado mês de Fevereiro. E não me arrependi, até hoje...


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