sexta-feira, 6 de abril de 2018

Divagações 129


Intimamente, creio que ninguém gosta de estar sozinho, embora o provérbio popular sugira uma possibilidade contrária.
Andam nomes nas estantes e nas letras supervalorizados de forma escandalosa, bem como há autores que qualquer conselho editorial criterioso recusaria editar. Mas os livros lá aparecem editados, as entrevistas multiplicam-se com baboseiras incipientes, ditos "para entre família", apelos à simpatia, explicação de lágrimas para despertar a compaixão no leitor, numa exposição patética e infantil, por parte desses escribas que não estão, talvez, preocupados em fazer arte, mas ir vendendo o mais possível...
Tenho os meus ódios de estimação, muito embora grande parte deles não resulte de uma mera embirração caprichosa, mas da constatação do logro de qualidade artística a que os assiste. E a que a falta de sentido crítico nacional e centenário, o compadrio despudorado, o mercenarismo militante, a cegueira racional e a falta de gosto reinante dá guarida, e favorece. Vox clamantis in deserto me sinto, às vezes, ou aquele rapaz atrevido, da fábula, que gritou: o rei vai nu!
Por uma vez, e hoje, no entanto, senti a beatificação tranquila da razão, embora tardia. Senti que não estava sozinho, mas acompanhado. E com argumentos sólidos, através de uma recensão, na ípsilon.

6 comentários:

  1. Na minha opinião os argumentos sólidos da recensão, são
    demasiados, e tempo perdido com algo inqualificável.
    A culpa não é de quem escreve, pois tem todo o direito
    de o fazer, mas em sua casa no seu computadorsinho.
    Quem aceita publicar uma coisa daquelas é que deve
    estar a vender gato por lebre e a tentar ganhar dinheiro
    a qualquer preço. O mau gosto, e a boçalidade vão imperando
    nas sociedades não só na literatura, como noutras coisas.
    Já vai longo o comentário mas acredite que também eu às
    vezes penso que estou contra a corrente.
    Desejo-lhe um bom fim de semana.

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    1. Também estranhei o largo espaço ocupado pela recensão. O objecto não merecia tanto, no meu entender. Mas entendi o facto de duas formas: ser sobre uma "obra completa (até ali)"(?) e ser de um autor badalado nos mentideros de superfície... Por outro lado, o livro ter sido editado por uma editora que já teve algum prestígio: a Assírio e Alvim (hoje engolida pela Porto Editora, creio). Estas realidades deverão ter contado na recensão crítica de Hugo Pinto dos Santos.
      Oxalá este alerta sério tenha alguma influência sobre algumas almas que gostam de versinhos, indiscriminadamente...
      Muito obrigado. Retribuo, com estima, os seus votos.

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  2. Depois do jantar estive a ler deliciado ( porque não aprecio o autor ) a crítica
    ORGÍACO E SOLENE, MONUMENTAL E FÚTIL
    .
    Até que fim alguém põe nos iii os pontos !

    Fiquei foi com interesse em ler os PREFÁCIOS, de Kierkegaard...

    Um abraço e bfs.

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    1. A leitura da recensão foi como um banho lustral para mim, nesse acompanhamento, do que há muito penso, sobre esse tipo de versinhos...
      Os fretes às editoras, que são quem paga a publicidade, explica que poucos tenham coragem de fazer uma crítica isenta e limpa, hoje.
      Acompanho-o no gosto por Kirkegaard.
      Retribuo os votos, com cordial estima.

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  3. Uma página e meia para falar de um livro menor (as poesias bacocas de um bom romancista)... parece-me uma genialidade marqueteira! Quanto terá recebido o bacano do Pudico? Quantas pessoas repararam, assim, num livro que teria passado despercebido? Eu nem sabia da coisa!

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    1. Conservo, ainda, a fresca ingenuidade de pensar que a literatura e adjacências nem toda é como o futebol português.
      Mas também é certo que sei de 2 ou 3 prosadores - que até escreviam bem melhor que o publicista em questão - que foram cilindrados de forma iníqua por forças exteriores e malsãs. E que acabaram a meio do caminho, fechando assim, prematuramente e para sempre, a sua carreira literária.
      Só não lhes refiro o nome por uma questão de discrição e para não os incomodar.

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