A primeira vez que folheei, de empréstimo, Le Nouvel Observateur, terá sido em finais de 1968 ou 1969, num estabelecimento militar, ali para os lados de Sta. Apolónia. O exemplar da revista era do Martins, jovem louro de formação marxista, e que, com o Neves, o Roseta, o Medeiros (de Valpaços, também louro, mas muito de direita, politicamente) e o Trindade, alferes milicianos, além de mim, completávamos a equipa de serviço. Estávamos a cerca de cinco anos do fim do Império...
Na altura, Jean Daniel (1920), pied-noir esclarecido e que fora grande amigo de Albert Camus, pontificava na conceituada revista francesa, que eu comecei a comprar, semanalmente, a partir de 1971. De alguma forma, o magazine contribuiu para fortalecer a minha formação ideológica e política, que se iniciara em Coimbra, em 1963, com as movimentações académicas. E foi com algum orgulho patriótico que vi Portugal, nos anos de 74 e 75, fazer algumas capas de Le Nouvel Observateur.
Com alguns hiatos e, recentemente, de forma mais esporádica (folheava-o previamente, para ver se me interessava), fui-o adquirindo às Quintas ou Sextas-feiras. Mas fui-me também apercebendo, com mágoa, da diminuição gradual de qualidade da revista francesa, das cedências ao lado róseo das coisas, do aumento de imagens nas páginas, da trivialidade de muitos temas abordados, do abaixamento profissional de uma boa parte dos jornalistas e colaboradores.
No local onde o compro, dos 6 exemplares que recebiam, há 4 ou 5 anos, passaram apenas a 2, que, muitas vezes, nem se esgotavam, apesar de menos. Ou seja, nem as cedências à banalidade de parte dos assuntos tratados fizeram com que a revista se vendesse mais - o crime nem sempre compensa, felizmente... E, às vezes, eu pensava que o velho Le Nouvel Observateur se tinha transformado, para além do nome (que agora se chama L'Obs.), numa espécie de Hola de luxo, com temas políticos.
Mas hoje, ao comprá-lo, no quiosque lisboeta habitual, tive mais uma desagradável surpresa. Dos 3,90 euros, que custava, passou a custar 4,70 euros: mais de 20% de aumento, numa publicação que, sendo de prestígio antigo, só tem vindo a piorar de qualidade, nos tempos mais recentes.
Para mim, chega!...