sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A infância, e as abóboras

Ao que parece, as sementes das cucurbitácias, se o tempo ajudar, são pródigas e reproduzem em abundância. Acontece que, por amável oferta, nos entraram em casa, recentemente, 4 abóboras lindas e perfeitas. Duas são abóboras manteiga donde se fazem os saborosos bolinhos de jerimu; outra delas, a maior, já tem destino: sopa e uma curiosa receita que dá pelo nome de Coelho na Abóbora. Finalmente, a quarta é uma abóbora gila (ou Chila) que se destina a compota: e se pode comer simples ou usar em doçaria conventual, mais sofisticada.
Simultaneamente, aconteceu que comprei e estou a ler "Infância" (talvez disso fale, em detalhe, oportunamente) de Graciliano Ramos, onde ele relembra as suas recordações matriciais das cucurbitácias. Não resisto a partilhar, com os meus amigos, um pequeno excerto, que segue:
"...A vazante das abóboras, por exemplo, ficava longe. Sòzinho, não me seria possível atingí-la. Dez ou vinte aboboreiras na terra de aluvião. Amaro havia dito que uma bastava. Se o inverno viesse, aquêle despotismo seria estrago; chegando a sêca, não se colheria um fruto, ainda que enterrassem na lama tôdas as sementes. Meu pai desprezou o conselho do caboclo - e o resultado foi uma praga de abóboras. A princípio uns cordõezinhos se torceram na vasa, enfeitaram-se de botões amarelos, de pequenas cabaças.  (...) E as abóboras cresceram, tantas que a gente andava na roça pisando em cima delas. Juntavam-se, enganchavam-se duas, três, num bloco, figuravam bela calçada movediça. ..."

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