terça-feira, 19 de abril de 2011

Osmose (16)




Por cenário, um universo pequeno, de melancolia. Tu és o mais velho de todos, no retrato. Levantaste-te tarde, lavaste as mãos apenas e os olhos vidrados da noite mal passada. Levaste os dedos enrugados ao cabelo despenteado, para compô-lo um pouco, e porque te chamaram, de fora, estridentemente - talvez a neta mais nova. Pelos longos anos já vividos sentes, em simultâneo, uma enorme liberdade e um estranho constrangimento. Já podes, despudoradamente, dizer o que pensas e, do grupo, uns com bonomia e complacência, ouvem-te. Outros, por respeito, calam-se e escutam-te, sem grande atenção. Por intuição, percebes tudo. Mas, depois, dialogas no teu íntimo, e perguntas: "- Porque é que me puseram neste grupo de velhos?" ou , "- Mãe!, porque é que eu não posso ir para a rua jogar o pião?". E ficas muito triste. Por isso, na fotografia, o teu sorriso medido e "figé", parece um esgar.

Sem comentários:

Enviar um comentário